Guilhermo Lasso, candidato da direita, vence eleição para presidente do Equador

Decidida no segundo turno pleito foi realizado neste domingo no país que tem mais de 17 mil mortes pela Covid-1 e teve queda de 8% no PIB em 2020

O candidato da direita Guillermo Lasso venceu a disputa com o economista de esquerda Andrés Arauz, aliado do ex-presidente Rafael Correa, e elegeu-se presidente do Equador no segundo turno da eleição, neste domingo.

Lasso assumirá a presidência do Equador em 24 de maio. “Os equatorianos manifestaram seu desejo de mudança”, disse após confirmada a vitória.

Araúz reconheceu a derrota quando a apuração chegou a 93,27% das atas, consolidando a vantagem de Lasso, que tinha 52,51% dos votos válidos, contra 47,49% obtidos por ele. O candidato disse que ligaria para o rival para felicitá-lo pela vitória, a fim de demonstrar suas “convicções democráticas”.
No primeiro turno, em fevereiro, Araúz ficou em primeiro lugar, com 32,7%, contra 19,74% de Lasso e 19,39% do advogado Yaku Pérez, candidato do movimento indígena Pachakutik. Pérez alegou fraude para afastá-lo da disputa final e pediu uma recontagem da maior parte dos votos que foi negada pelo Conselho Eleitoral.

Pérez fez campanha pelo voto nulo. Seu partido, que em fevereiro conquistou 27 cadeiras na Assembleia Nacional de 137 deputados, terá papel decisivo na governabilidade do presidente eleito. A coalizão de Lasso ganhou apenas 31 cadeiras, enquanto a Aliança União pela Esperança, de Arauz, tem 49, e a Esquerda Democrática, do ex-candidato presidencial Xavier Hervas, elegeu 18 deputados.

Equador  Eleição presidencial
Mulheres indígenas votam em seção eleitoral em Cangahua, província de Cayambe, no Equador Foto: CRISTINA VEGA RHOR / AFP

Campanha

Nos últimos dois meses de campanha, Lasso, de 65 anos, concentrou esforços em atacar os pontos fracos de Arauz, com destaque para sua relação próxima com o ex-presidente Correa, exilado na Bélgica, país de origem de sua mulher, e condenado, no ano passado, a uma pena de oito anos de prisão sob a acusação de recebimento de propina de empresas em troca de contratos com o Estado. Correa nega o crime e afirma ser alvo de perseguição política e judicial.

O empresário e candidato da aliança entre o Movimento Criando Oportunidades (Creo) e o Partido Social-Cristão tem entre seus assessores o consultor político Jaime Durán Barba, famoso por ter conseguido eleger o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) na Argentina.

Já Arauz, de 36 anos, acusou seu adversário de ser o candidato do ajuste e de usar o dinheiro de seus aliados banqueiros para orquestrar uma “campanha suja”. Nas últimas semanas, Lasso usou intensamente as redes sociais para acusar Arauz de vínculos com o Exército de Libertação Nacional (ELN), guerrilha ainda ativa na Colômbia, e denunciar seu suposto envolvimento em escândalos de corrupção envolvendo a empresa brasileira Odebrecht.

A imagem negativa dos dois candidatos alcançava 50%, o que tornou mais difícil para analistas antecipar qual seria o desfecho de uma queda de braço que definiu se o movimento político liderado do exílio por Correa, que foi um dos expoentes da chamada onda bolivariana na América do Sul, retornaria ou não ao poder.

O Equador está mergulhado numa grave crise econômica — em 2020 o PIB despencou 8,9% — e sanitária — os contágios de Covid-19 já atingiram 345 mil, e os óbitos, 17.275.

O atual governo, do presidente Lenin Moreno, é rejeitado por cerca de 80% da população. Moreno, que foi vice-presidente de Correa, foi eleito em 2017 com o respaldo do então presidente, mas acabou se distanciando e até mesmo promovendo a perseguição de membros do governo anterior.

Um dos ataques de Lasso a Arauz foi tê-lo acusado de ter mantido seu emprego no Banco Central durante o governo Moreno.

Lasso é conhecido por ser um empresário, de família pobre, que ficou rico graças ao próprio esforço. Ele está muito associado ao mundo dos banqueiros e ao trágico feriado bancário : o dia 8 de março de 1999, quando foi declarado um feriado bancário de 24 horas, com congelamento de depósitos. A medida acabou vigorando por um ano.

Entre 1997 e 2007, o Equador teve oito presidentes. Nos dez anos seguintes, Correa foi a figura dominante da política nacional. A eleição de ontem definiu se, para a maioria dos 25 milhões de eleitores equatorianos, pesou mais o desejo de uma mudança, prometida por Lasso, ou a lembrança dos anos de bonança do correísmo.

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