O Maranhão tem um lugar especial na obra de Ronaldo Costa Fernandes. Estado natal do escritor, é também o cenário de alguns de seus romances e poemas. Fascinado pela maneira como a história trata e destrata certos temas, ele agora trouxe para o Maranhão uma trama de revoltas e ideologias nas quais pretende mostrar o quão desconhecidos ainda são alguns momentos da história do Brasil.
Em Balaiada, seu oitavo romance, Costa Fernandes mergulha em uma revolta que envolveu de escravos a fazendeiros para contar a história de personagens que são uma espécie de metáfora de um momento político e social brasileiro. “Essas revoltas populares do império são pouco conhecidas e quebram a ideia daquele Brasil pacífico”, explica o autor. “A rebelião começa no Maranhão, que é liberal.
Durante algum tempo a historiografia maranhense quis caracterizar os rebeldes como um bando de desajustados sem ideologia, mas era uma revolta que é típica da opressão, da dificuldade de se expressar das classes oprimidas e não só, no caso dessa revolta, até fazendeiros ricos participaram.”
Balaiada narra a história de Ivo e Nunes, dois brasileiros, estudantes em Coimbra (Portugal) no século 19, amigos que lutaram juntos durante o Cerco do Porto, quando o liberal Dom Pedro tomou a cidade para enfrentar as forças absolutistas do rei Dom Miguel. Anos depois, os dois retornam ao Brasil. Ivo vai cuidar da fazenda após a morte do pai e Nunes retoma os negócios da família. A amizade começa a rachar quando o primeiro, liberal, passa a defender as causas da balaiada enquanto o outro envereda por um caminho conservador e casa com a irmã do ex-amigo. “A briga entre esses personagens vai ser uma metonímia da briga geral”, explica Costa Fernandes.
Para alimentar ainda mais as desavenças, um segredo de Nunes revolta Ivo. Quando volta de Portugal, o amigo traz junto a serva Maya, a amante trans que terá destino trágico num país marcado pela opressão e pela violência. “A Maya é para atualizar, sempre com a ideia de lutas liberais”, explica o autor. “Umberto Eco dizia que um romance histórico não tem sentido se não fala de coisas atuais. O Nome da Rosa fala de questões que não eram aventadas na época. A personagem trans é uma antagonista perfeita, porque, além de ideias liberais e conservadoras, ela é motivo de discórdia. Ivo sabe que ela é homem. E eles brigam o tempo todo.”
Costa Fernandes fez questão de escrever Balaiada em uma linguagem que se aproxima daquela comum na literatura brasileira do século 19. Com narrativa elegante e envolvente, o romance transporta para um período áureo da produção literária e agitado da vida política do país. Uma referência foi Joaquim Manuel de Macedo, autor de A moreninha, que aparece como personagem na figura de um jovem médico. “Acho que o estilo é uma linguagem comum e corrente, próxima da de Macedo”, avisa o autor.
Balaiada
De Ronaldo Costa Fernandes. EntreCapa Edições, 236 páginas. R$ 35