Em entrevista ao podcast Mano a Mano, conduzido pelo músico e ativista Mano Brow, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) criticou a “insensibilidade” da classe mais alta do país com os mais pobres e comparou esse comportamento com a herança escravocrata do país. Segundo Dilma, o Brasil tem dinheiro para dar escolas de graça à população, da creche até a faculdade, mas tem uma elite que não se preocupa com o povo.
“O que eu acho mais absurdo no Brasil é a absoluta insensibilidade da elite brasileira, das oligarquias brasileiras, sejam financeiras, industriais, agrícolas, seja quem for, pelo destino de seu próprio povo. Isso é imperdoável”, disse a ex-presidente.
E completou: “Nunca vamos esquecer que um dos problemas mais graves do Brasil é a escravidão. Não só porque escravizaram nosso povo, mas porque, quem escravizou, e o fez por 300 anos, é a elite desse país. É só isso que explica a insensibilidade dela perante o seu próprio povo”.
Dilma também defendeu a revogação do chamado teto de gastos, em vigor desde o governo de Michel Temer, que impõe limite de despesas ao Estado.
“Eu acho que tem dinheiro. E tem dinheiro”, destacou a petista.
“Por mais racional e intelectualizado que você seja, a sua relação com o seu povo tem que ser uma relação emocional, afetiva. E ela tem que ser forte. Ela tem que sair de dentro de você. Você não pode ficar conformado. Eu não fico conformada”, disse.
“Paiseco exportador”
A ex-presidente ainda apontou que a política de paridade de preço dos combustíveis adotada pela Petrobras fez com que o Brasil passasse a ser um “paiseco exportador de commodities” e disse que não faz nenhum sentido o presidente da República, Jair Bolsonaro, culpar a estatal pela alta dos preços da gasolina e do diesel.
“É bom lembrar que o presidente da República nomeia toda a diretoria”, disse a petista. “O governo tem a maioria do conselho de administração. Ele não manda na Petrobras?”, questionou.
“Golpe”
Dilma disse não ter pretensões eleitorais e, ao falar sobre as “pedaladas fiscais” – que serviram como base para a denúncia que levou ao seu impeachment –, disse que “adora” mencionar o assunto.
Ela considerou que esse argumento foi usado porque não havia nada que as pessoas pudessem acusá-la de corrupção, a não ser de gastar dinheiro em um projeto de inclusão social no Brasil.
“Acho que sofri impeachment porque representava um projeto diferente para o Brasil, de inclusão social”, analisou.
“Tentaram criminalizar o exercício do orçamento”, avaliou. “Havia uma certa dificuldade de me acusar de qualquer coisa”.
“Eu não quero o compromisso eleitoral porque eu quero falar as coisas que eu acredito”.
“Eu cansei de escutar ministro do Supremo, o próprio Temer dizendo que não foi bem pedalada fiscal, foi porque eu não tinha apoio político”, disse a petista. “Só que não ter apoio político no Brasil não é razão para impeachment”.
Misoginia
Dilma ainda apontou o caráter misógino do impeachment. Para ela, houve o uso de sua condição de mulher para tirá-la do governo.
“Agora, eu acho que o golpe utilizou profundamente da minha condição de mulher para criar o meio ambiente para me tirar do governo”, falou.