Os detalhes das cerimônias da maçonaria não podem ser divulgados para pessoas que não fazem parte dela, o que explica a aura de mistério que cerca os maçons. No entanto, as características mais amplas desses rituais são relativamente bem conhecidas, indicando que sua simbologia mistura elementos da Bíblia, tradições medievais e perspectivas filosóficas do Iluminismo do século 18.
A influência medieval começa pela designação do movimento. A palavra “maçom”, de uso comum em línguas como o francês e o inglês (com as formas “maçon” e “mason”, respectivamente), tem o significado original de “pedreiro” ou “construtor”. Durante a Idade Média, associações ou irmandades profissionais de construtores -vagamente parecidas com os sindicatos de hoje- parecem ter estado entre os embriões da maçonaria.
Nessas associações, era comum que aprendizes fossem instruídos por construtores mais experientes nos conhecimentos necessários para o ofício, tal como acontecia com outras profissões daquele período, e é provável que esse processo fosse acompanhado por determinadas cerimônias. Essa fase do movimento é conhecida como maçonaria operativa, já que seus membros eram operários especializados.
Entre o final do século 17 e o começo do século 18, entra em cena, por processos que não estão totalmente claros, a chamada maçonaria especulativa, em que os membros não são mais necessariamente construtores, e na qual os elementos filosóficos e ritualísticos passam a ser predominantes.
A ascensão da maçonaria especulativa se dá, em grande parte, na Escócia, na Inglaterra e na França, espalhando-se depois para outros países da Europa Ocidental.
É nesse momento que a influência do Iluminismo se faz sentir, dando à maçonaria boa parte do caráter que carrega ainda hoje. Muitas das ideias iluministas enfatizavam a importância da razão para compreender o funcionamento do Universo e para gerir a sociedade de forma positiva.
Embora muitos pensadores do Iluminismo não rejeitem a crença a Deus, eles tendem a criticar as religiões tradicionais e condenam a imposição de determinado tipo de pensamento religioso pelo Estado.
No caso da maçonaria, essa perspectiva se reflete no fato de que a maioria dos grupos exige de seus membros a crença num Poder Superior ou Ser Supremo “genérico”, que pode ser identificado com o Deus das mais variadas religiões.
Em português, essa divindade generalizada corresponde à sigla Gadu (Grande Arquiteto do Universo). Nos rituais que exigem juramentos, os maçons podem usar qualquer livro que sua religião pessoal considerar sagrado, como a Bíblia, o Corão ou os Vedas (do hinduísmo).
A designação da entidade divina como Grande Arquiteto é a primeira pista de como funcionam a simbologia e os rituais maçônicos. Eles costumam ter um caráter fortemente alegórico, ou seja, os objetos e as ações usados para construir uma casa ou um templo são usados como símbolos de realidades filosóficas e espirituais.
Segundo essa visão, assim como Deus teria usado princípios racionais para arquitetar o Universo, os maçons são os “pedreiros” que constroem seu próprio caráter seguindo os mesmos princípios.
Os chamados “graus” da maçonaria seriam manifestações desse aperfeiçoamento, começando com o grau de aprendiz, passando para o de companheiro e, por fim, ao de mestre maçom.
Dependendo da tradição à qual o iniciado pertence, é possível alcançar outras dezenas de graus -não existe um percurso unificado porque não há uma autoridade responsável por centralizar os rituais dos grupos maçônicos.
“Loja maçônica” é o nome que se dá à reunião de maçons de determinada localidade, enquanto o edifício em que se reúnem é o “templo maçônico”, embora, na prática, os termos se confundam, e os encontros possam acontecer sem um edifício construído especificamente para esse propósito. Uma “Grande Loja” ou um “Grande Oriente” supervisiona as lojas de uma região mais ampla.
Rituais importantes da maçonaria têm como base a encenação e interpretação alegórica da lenda de Hiram Abif, que teria sido o arquiteto de origem israelita e fenícia encarregado de construir o Templo de Salomão em Jerusalém, por volta de 950 a.C.
Segundo a narrativa, interpretada de forma alegórica pelos maçons, Hiram teria sido cercado por três construtores quando o Templo estava perto de ser concluído. O trio exige do arquiteto os segredos de seu ofício e, quando ele se recusa a revelar esses segredos, cada um dos homens o fere com instrumentos de pedreiro, até que ele morre.
Ele é enterrado numa cova rasa, marcada com um ramo de acácia, até que seu túmulo é descoberto e os assassinos são capturados. O rei Salomão então diz aos outros construtores que a palavra secreta protegida por Hiram foi perdida, e é preciso substituí-la com outra.
“Na verdade, para a maçonaria, o nome Hiram é o representante abstrato da ideia de um homem trabalhando no Templo da humanidade, cavando masmorras ao vício e construindo catedrais à virtude”, diz artigo sobre a simbologia da história no site do Grande Oriente do Brasil, um dos principais grupos maçônicos do país.
Instrumentos usados para fazer medidas são outra parte central da simbologia maçônica. É o caso do esquadro e do compasso unidos, com a letra G (de “geometria”, mas também de “God”, ou “Deus” em inglês) no centro. As colunas dos templos maçônicos costumam remeter, mais uma vez, ao Templo de Salomão, enquanto os aventais usados pelos membros evocam os utilizados pelos construtores das confrarias medievais. Os aventais recebem diferentes marcas de acordo com o grau alcançado pelo maçom.