Wesley Barbosa tem 33 anos completados na quinta, 30. Escritor da periferia, preto, natural de Itapecerica de Serra, em São Paulo. Sozinho, já vendeu mais de 10 mil livros de um total de quatro obras publicadas.
Vindo de uma família humilde, com a mãe solo faxineira, que criou os quatro filhos sozinha, sem muitos estudos, ninguém nunca o incentivou a ler, e essa paixão surgiu de uma forma natural.
“Na minha casa, nunca conheci ninguém que gostasse de ler. Nunca tive muito incentivo de ninguém. Eu comecei a pegar nos livros e a gostar disso”, relembra ele.
“Acho que o livro me tirou um pouco da realidade que eu vivia, de pobreza mesmo. E ali eu me sentia rico por intermédio da leitura. Rico no sentido de sair daquela realidade através da imaginação.”
Geralmente, os autores primeiro escrevem os livros e deixam o título para o final, mas no livro Viela Ensanguentada Wesley quis fazer diferente. Após ter a ideia do título, ele escreveu em apenas dez dias o livro todo. Todas as noites ele colocava como meta escrever dez páginas e, assim, no final das contas, um livro de 100 páginas surgiu.
A ideia inicial era produzir livros de bolso, que fossem pequenos e as pessoas pudessem levar para qualquer lugar. Wesley queria “ensaiar” para depois escrever um romance. “Eu trabalhei de 10 a 14 horas por dia para produzir esse livro. Aí eu percebi que estava escrevendo uma história maior.”
Como todo autor, Wesley coloca características pessoais em seus trabalhos e foi assim também com o personagem Mariano, de Viela Ensanguentada, de 2022.
Por ter a vivência de periferia, Wesley quis trazer para alguns personagens gírias e expressões utilizadas nas comunidades. O narrador do livro é culto, narra em primeira pessoa, mas os personagens da viela falam de forma informal. “Fiz isso de propósito, porque eu achei necessário, porque senão ficaria estilizado. Se fosse uma pessoa que não fosse da quebrada, talvez ela exagerasse nas gírias.”
“As pessoas da quebrada são complexas, não há ninguém igual ao outro, não é uma uniformidade. São pessoas que falam de várias formas”, explica Wesley.
Sobre a venda de mais 10 mil exemplares das suas obras, diz que conseguiu essa proeza parando em bares, conversando com as pessoas nas ruas, explicando a história do livro e, claro, com a ajuda da internet.
Com a pandemia, todo mundo teve de descobrir novos hobbies ou ocupar a mente e foi nesse momento que Wesley viu a oportunidade de negócio e começou a vender pelo Instagram. Ele entende que a realidade na qual foi criado não favorecia as escolhas que queria fazer para o seu futuro. “Não era para eu ser um escritor, não era para eu ser nem um leitor”, desabafa.