O ritmo no barracão da Estação Primeira de Mangueira, na Cidade do Samba, região portuária do Rio, está forte. Tudo para aprontar o carnaval de 2024 que vai homenagear uma personagem importante da história da verde e rosa: a cantora Alcione.
Por causa das festas dos meses de junho e julho, a agenda da Alcione está intensa e, por isso, o contato com a equipe de carnaval está menor, ao contrário do que foi quando os carnavalescos estavam desenvolvendo o enredo, mas em agosto deve mudar e já estão previstas algumas reuniões, entre a dupla de coreógrafos da comissão de frente Karina Dias e Lucas Maciel e a homenageada. “Com a gente eles estão aqui [no barracão] todos os dias trocando ideias de como pode ser a comissão de frente. Eles não tiveram contato com a Alcione que eu acho muito importante ter”, revelou.
Samba
A disputa do samba na quadra vai começar, segundo Annik, no dia 2 de setembro. Agora ainda está na fase de criação dos compositores. A carnavalesca disse que a maior parte dos sambas concorrentes deve ser entregue no início da seleção. “Eles [compositores] deixam para vir mais para o final e trazer o samba pronto. Os que vieram até agora foram só a letra pra gente ver se está de acordo com a proposta do enredo. A gente não ouviu um samba completo”, contou.
A identidade da cantora Alcione com a Estação Primeira de Mangueira é uma prova de que a pessoa não precisa ter nascido na mesma cidade onde uma escola de samba faz suas atividades para se sentir parte daquele universo. Não à toa que a Mangueira decidiu homenagear a maranhense como personagem do enredo de 2024: A Voz Negra do Amanhã.
Quem convive com a Alcione sabe do envolvimento dela com a verde e rosa e com a comunidade do Morro de Mangueira. Até em batizados, casamentos, enfim, festas de famílias a cantora costuma estar presente. Por isso, os carnavalescos acreditam que a homenagem a marrom, como é chamada, fosse um pedido antigo dos componentes da escola.
“Ela escolheu esse lugar. É uma pessoa que não nasceu no Morro da Mangueira, nasceu no Maranhão, mas é como se fosse cria desse morro. Essa identificação que ela tem é muito forte e querendo ou não a Mangueira ficou um pouquinho mais maranhense, graças a Alcione”, completou o carnavalesco da escola àAgência Brasil,na época do lançamento oficial do enredo.
A proximidade de Alcione com a Mangueira não para por aí. A escola escolheu o aniversário de 95 anos, no dia 28 de abril, para lançar oficialmente o enredo de 2024. “Graças a Deus, desta vez ela aceitou, o que, para nós, é uma honra. Está sendo um processo muito gostoso, porque ela também está acompanhando. Temos um suporte muito grande, não só da Alcione, como de toda a família, dos funcionários e assistentes dela”, contou Guilherme Estevão.
Quando soube que era o tema de 2024, a cantora se emocionou com a homenagem que surgiu justo quando completa 50 anos de carreira. Alcione chegou até a dizer que a Mangueira está sua história e na sua vida a ponto de achar que até o sangue dela é verde e rosa, se referindo às cores da Estação Primeira.
Maranhão
O estado natal de Alcione será apresentado no enredo para mostrar a imersão da artista na cultura popular que a acompanhou durante todo o tempo. Aí estarão as crenças, as festas religiosas dedicadas a São João, São Pedro e São Marçal e as tradicionais como o Tambor de Crioula, definido como patrimônio cultural do Brasil, que se trata de uma dança de origem africana em devoção a São Benedito. O público vai ver uma representação do Bumba Meu Boi, também uma tradição maranhense.
Na carreira artística, o enredo lembrará a formação musical incluindo o piston, instrumento que usou muito nas apresentações na noite carioca depois da sua mudança para o Rio de Janeiro. Antes o primeiro contato com a música na cidade foi como vendedora na loja Império dos Discos. Na sequência vieram os concursos de calouros eshowsem boates do Rio.
O amor pela Mangueira surgiu no Maranhão, a ala de baianas da escola em desfiles da escola, retratada em revistas, chamou a sua atenção. Quando chegou ao Rio, se aproximou dos componentes da escola e começou a participar também dos desfiles.
Desde 1987 está à frente da escola mirim Mangueira do Amanhã que desenvolve durante o ano oficinas artísticas e cursos de formação de mestres-salas e porta bandeiras, baianas e mestres de bateria. Essa é a forma de Alcione reforçar o futuro da escola por meio de crianças da própria comunidade. Tudo isso vai estar na Marquês de Sapucaí para envolver o público e alegrar os corações mangueirenses.