A atriz Lúcia Gato apresenta nesta terça-feira, 25, no Teatro da Cidade (Antigo Roxy), em São Luís (MA), às 20 horas, o monólogo “Eu Sou Atlântica”, baseado na obra homônima sobre a trajetória da ativista dos direitos humanos Beatriz Nascimento (1942-1995).
Publicado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e Instituto Kuanza, de autoria de Alex Ratts, o livro é dividido em duas partes. Na primeira – “Quantos caminhos percorro” – o autor dialoga com a obra publicizada e inédita de Beatriz Nascimento, por meio das temáticas e categorias da pesquisadora e a partir de pesquisa em acervos públicos e particulares no Rio de Janeiro, em São Paulo e Brasília. A segunda – “É tempo de falarmos de nós mesmos” – traz oito artigos escritos por ela entre 1974 e 1990, publicados em periódicos como Revista Cultura Vozes, Estudos Afro-Asiáticos, Afrodiáspora, Maioria Falante e Última Hora.
Quem é Beatriz Nascimento
Nascida em Aracaju (SE), Maria Beatriz Nascimento foi a oitava filha de uma família de nove irmãos. Como muitos outros nordestinos , em 1949 a família migrou para a região Sudeste, mais precisamente para o Cordovil, bairro do subúrbio carioca.
Aos 28 anos de idade, Beatriz Nascimento é aprovada para o vestibular do curso de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), graduação que conclui em 1971. No mesmo período, fez estágio em pesquisa no Arquivo Nacional, sob orientação do historiador José Honório Rodrigues. Tempos depois, torna-se professora da rede estadual fluminense.
A historiadora sergipana aliou a militância com a vida acadêmica. Ao lado de pesquisadores e pesquisadoras negras, fundou o Grupo de Trabalho André Rebouças na Universidade Federal Fluminense (UFF). Foi presença constante na retomada dos movimentos sociais negros organizados, entre o fim dos anos 70, mantendo vínculo inclusive com o Movimento Negro Contra a Discriminação Racial (MNUCDR, nome mais tarde reduzido para MNU), fundado em 1978.
Beatriz pensava os territórios de resistência de escravizados e seus descendentes de maneira científica, mas também a partir de sua trajetória pessoal e do seu ativismo político antirracista, defendendo o reconhecimento e a titulação das terras quilombolas, o que viria a acontecer a partir de 1995:
Embora seja seguramente uma das maiores estudiosas do país a respeito do tema, Beatriz Nascimento é mais conhecida pelo documentário Ôrí, palavra em yorubá com o significado de “cabeça”, que para os candomblecistas relaciona-se à mente, à inteligência, à alma. Lançado em 1989 e dirigido pela cineasta Raquel Gerber, a partir dos textos e da narração de Nascimento, Ôrí recupera os percursos dos movimentos negros que emergiram no Brasil entre 1977 e 1988, entrelaçados pela diáspora africana, tendo os quilombos como fio condutor.
Nesse trânsito entre História, ativismo e educação, Beatriz Nascimento ainda percorreu o caminho das letras, tendo se dedicado também à escrita de poemas. No âmbito acadêmico, sua última parada foi na faculdade de Comunicação Social da (UFRJ), onde deu início ao curso de mestrado, sob a orientação do comunicólogo Muniz Sodré. A dissertação não pôde ser defendida, pois ela teve sua vida ceifada pelo companheiro de uma amiga, que em 28 de janeiro de 1995 disparou cinco tiros à queima-roupa contra Beatriz.