O TESTAMENTO DE JUDAS
Cesar Teixeira
Sessenta anos do Golpe
deixo na fotografia,
feito Herzog em um poste:
peço aposentadoria.
Como uma fratura exposta
(sangue, lágrima, bosta),
é dor que aniversaria.
Na ponta da fria corda
morre o Judas indigente,
que deixa apenas cueca,
chinelo e escova de dente
lá na porta da Papuda,
pra campanha que ajuda
generais reincidentes.
Vou deixar no STF
um castelo desmontado.
O general Freire Gomes
não topou golpe de Estado,
que broxou com a minuta
do cagão filho da puta:
Bolsonaro, pai do gado.
Deixo uma cesta básica
para quando o Messias
se esconder da PF
na embaixada da Hungria.
Diz que é amigo de Orbán,
só quero ver amanhã,
quando for cagar na pia.
Para o Donald Trump
deixo um Pix voador,
para ajudar nas multas
dos crimes que praticou
por fraude no portfólio,
invasão do Capitólio
e enganar atriz pornô.
Deixarei lá na Ucrânia
o que me restar de vida
no hospital onde a carne
da esperança é explodida.
Perdidos entre os destroços,
as almas buscam seus ossos,
crianças buscam comida.
Gritos de cimento e breu
deixo pro Netanyahu.
Sob o fogo sionista
dessa guerra de escarro,
a hemorragia de Gaza
pelas mãos do Cristo vaza,
modelando a dor no barro.
Para o Lourena Cid,
que tem a alma encolhida,
deixei uma palmeirinha
de ouro fino revestida
O general foi ao topo,
vendeu joias, tirou coco,
e se fodeu na descida.
Vou deixar meu passaporte
de rasurado papel
para o impostor Jair
viajar pra Israel.
A convite do Pé Duro,
vai se lamentar no Muro
pra tentar fugir pro Céu.
Bolsonaro na Papuda
não vai ser paparicado,
sem direito a caviar,
vinho e leite condensado.
Não tem caldo de galinha,
anistia ou saidinha,
depois que for enrabado.
Para Renan Bolsonaro
lavar seu faturamento,
deixarei uma Brastemp
lá na RB Eventos.
Boletins de um falsário,
sem empréstimo bancário,
é o pior investimento.
São dez anos derramados
da Operação Lava Jato,
que sujou a própria Lei,
porém, não lavou o prato.
Caixa-Dois do vazadouro,
o marreco Sérgio Moro
vai prevaricar no mato.
A briga da Beira-Mar
incendeia o Testamento,
o Governo e a Prefeitura
puxando cabelo ao vento.
Deixarei duas cangalhas
pra colocar as tralhas
no lombo de dois jumentos.
A muamba da Folia
que faltou no Socorrão,
Braide torrou com Alok
e com Manu Batidão.
Com a Arte moribunda,
o Carnaval de Segunda
quase vai pro Gavião.
Deixarei sete milhões
e uma sagrada alfaia
na Creche do Instituto
onde Juju e Cacaia
vão benzer o Carnaval,
meter no bolso o cacau,
depois cair na gandaia.
Arranhando corações,
o Prefeito, por cobiça,
demitiu três funcionários
para iludir a Justiça.
Na augusta hora do quibe
deixo ao Marco Duailibe,
chá calmante de Melissa.
Pra deputada Mical
fazer suas pregações,
deixo a Bíblia Sagrada
no Palácio dos Leões,
Rodrigo sentiu no faro
catinga de Bolsonaro
no Templo das traições.
Deixo pro governador
vacinar a sua Fé
o Antigo Testamento,
pois, na Arca de Noé
jabuti mordeu Leão.
Segundo a Oposição,
Brandão virou jacaré.
O Agronegócio hoje
é padroeiro do Estado,
e a soja insustentável
a coveira do Cerrado.
Lá na SEMA o festival
de licença ambiental
é um crime autorizado.
No deputado Chiquinho
e Domingos, seu irmão,
licença peço ao Plenário
pra enfiar meu Brazão.
Na morte de Marielle,
tá faltando o Sete-Peles,
que no Inferno é Capitão.
Deixo a máscara do Cão
para Rivaldo Barbosa,
delegado das milícias
e quadrilhas perigosas.
Com a cara de santinho,
protegeu os vis espinhos
e enterrou a bela rosa.
Ao Nikolas Chupetinha
ofertei uma passagem
para dar a volta ao mundo
e, ao retornar da viagem,
contar se a Terra é plana
ou parece uma banana.
Ele não teve coragem.
Para impedir vazamento
depois de uma delação,
ao Ajudante de Ordens
eu vou deixar um tampão.
Mauro Cid não decide
se desmaia, sem COVID,
ou falsifica o cartão.
Duas bolas pra Robinho
e o amigo Ricardo Falco
transferi para Pedrinhas,
onde presos jogam talco
no cu de estupradores.
Eles vão gozar horrores,
depois rebolar no palco.
Com toda indignação
eu vou deixar um espelho
para o Daniel Alves,
com sua barba de pentelho,
ver ali o monstro, a culpa
de quem bate e estupra
uma mulher de joelhos.
Vou deixar três parcerias
pro Paulinho Dimaré
anotar em seu caderno:
reggae, samba e arrasta-pé.
Se tem álcool no motor,
ele se dana a compor.
E seja o que Deus quiser…!
Deixo na Rádio das Tulhas
música dentro do pão
que promove restaurante
e alimenta o coração.
Tia Amélia eu não explico,
mas o Deco ficou rico
sem gastar nenhum tostão.
Essa Campanha das Fraldas
é tudo que nos motiva,
eu deixo um saco de estopa
reciclado lá da Estiva.
Já passei a tapioca,
mas é Noleto quem troca
a fralda de Patativa.
O Solar Maria Firmina
herdou arte e tradição.
Dos produtos consumidos,
a cachaça é o campeão.
Com Chico Nô e Aziz,
Firmina torce o nariz,
dá três voltas no caixão.
Para Érico Junqueira,
irmão de perdas e danos,
deixo um lápis pra lembrar
nosso ídolo baiano:
que me envie das Alturas
a melhor caricatura
de Waldick Soriano.
Tapete vermelho deixo
estendido por inteiro
na ladeira do Divino
para um astro brasileiro.
São Pedro fecha o cordel,
acende estrelas no Céu
e aplaude Cláudio Pinheiro.
FIM