Espetáculo teatral apresentado em São Paulo, em setembro de 2023, com dramaturgia assinada por Lena Roque e Marcelo Ariel, trouxe uma livre adaptação dos textos de Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista do Brasil, autora de Úrsula, publicado em 1859. Maria Firmina dos Reis, Presente! é uma peça-invocação da presença da negra maranhense, na qual é exposto o pensamento de seus textos e poemas, em uma reconstrução dramático poética do que seria um encontro do público com a escritora e professora falecida em 1917.
Devido à importância da peça que trouxe este resgate histórico, a Barraco Editorial acaba de lançar Maria Firmina dos Reis, presente!, o registro da peça. Na orelha do livro a professora e cientista social Luciana Diogo assegura: “A partir de agora temos em mãos — transposta dos palcos — toda a potência histórica e estética da vida literária de Maria Firmina transbordando por nossos bolsos, numa dramaturgia delicada, insurgente e provocativa de Lena Roque e Marcelo Ariel”, diz a professora, que é autora da obra Maria Firmina dos Reis: vida literária/Malê.
A dramaturgia se apresenta como escrita poética dramática, acrescida de livre adaptação dos textos de Maria Firmina dos Reis, e é assinada por Lena Roque, que também assinou a direção do espetáculo (atriz com 37 anos de atuação, diretora, dramaturga e roteirista, formada em Artes Cênicas pela ECA/USP) e Marcelo Ariel (poeta, ensaísta e teatrólogo).
A performance da memória é um dos elementos que marca a textualidade negra. O livro trata de um passado que ainda não passou, puxando os fios a partir do nosso cotidiano. Contudo, é mais do que uma peça-manifesto, é a exposição de uma vida por meio do rastro de seus escritos e pensamentos.
“A mente, essa ninguém pode escravizar”. Esta frase contundente abre o livro, assim como encerra a peça, em que Lena Roque dá vida à escritora. No prólogo, a atriz faz uma breve resumo de quem foi Maria Firmina, uma maranhense nascida em 1825, filha de ex-escravizada, que se tornou professora, compositora, musicista e a primeira escritora negra a publicar um romance no país. Na montagem, a atriz era acompanhada de um pianista e um percussionista. O texto sobre a carreira e a vida de Maria Firmina era intercalado com canções e poemas.
“Meus amores são da terra Mas parecem lá do céu; São como a estrela d’alva São como a lua sem véu. Meu amor é flor singela, Enlevo do coração; Tímido como a gazela, Ardente como um vulcão.” Trecho do romance Úrsula também fez parte do enredo da peça e a personagem/escritora confessa que para publicar o livro usou o pseudônimo de Uma Maranhense.
Um recurso criativo utilizado na montagem com o objetivo de trazer para os nossos dias a figura da escritora maranhense foi encenar uma entrevista por meio de um painel LED. Assim a atriz respondia a perguntas de mulheres negras vivas e atuantes, como as escritoras Eliana Alves Cruz, Luciana Diogo e Cidinha da Silva. As perguntas se referiam à história de Maria Firmina, mas continham questões ainda insolúveis no século XXI, como machismo, racismo e invisibilidade da mulher negra.
Ficha
Título: Maria Firmina dos Reis, Presente!
Autores: Lena Roque e Marcelo Ariel
Editora: Barraco Editorial, 60 pp