O Festival de Cinema de Pequim, que começa nesta sexta-feira (18), passou a vender ingressos para os filmes estrangeiros ao meio-dia de segunda, no aplicativo Maoyan. “Ainda Estou Aqui“, com Fernanda Torres e Selton Mello, direção de Walter Salles, apareceu na lista com uma única exibição no dia 26. Duas horas depois, os ingressos para a sala de 625 estavam esgotados.
O motivo de ter só uma sessão é que o filme estreia em circuito comercial por toda a China já em 16 de maio. O objetivo por parte dos exibidores foi coincidir com a visita de Estado de Lula, que vem à capital no dia 13 para se encontrar com o líder Xi Jinping. São esperados anúncios de integração entre projetos brasileiros e chineses, em diversas áreas.
Uma das espectadoras frustradas com a rápida lotação da sessão única do festival, no China Film Archive Art Cinema, nome em inglês da sala de filmes de arte de Pequim, é a jornalista chinesa Isabela Shi, do serviço em português da Rádio China Internacional.
“O Último Azul” venceu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim, em fevereiro. “Ainda Estou Aqui” levou o Oscar de melhor filme estrangeiro, no início de março.
O filme de Salles recebe grande atenção desde então na China, a ponto de surgir em sites de compartilhamento no país e, na sequência, em sessões privadas com brasileiros e também chineses. Uma delas foi num hutong, os bairros de casas populares no centro de Pequim, que passam por gentrificação.
“Estou muito ansiosa para assistir, motivada principalmente pela sua reputação, como premiado no Oscar”, diz Shi. “Outra razão é que Fernanda Torres é filha da Fernanda Montenegro, de ‘Central do Brasil‘, um filme amplamente admirado na China. Isso me faz esperar sua interpretação para uma personagem vivendo num período especial do Brasil.”
“Ainda Estou Aqui”, já visto por número considerável de chineses, alcançou 7,8 pontos no Douban, plataforma para avaliação pelos usuários do país. Continua distante de “Central do Brasil”, que tem 8,7, e mais ainda de “Cidade de Deus“, com 9. “Não é um desempenho tão legal quanto eu esperava”, diz Shi.
As salas lotadas não se restringem aos filmes brasileiros, no festival de dez dias, 33 cinemas e mais de 300 filmes, lembrando a Mostra de Cinema de São Paulo. Entre as produções que se esgotaram mais rapidamente, segundo o aplicativo Maoyan, estão sucessos chineses do passado recente como “Hong Meigui, Bai Meigui” (Red Rose White Rose), de 1994, e “Rang Zi Dan Fei” (Balas em Fúria), de 2010.
O festival acontece após o anúncio oficial de que os filmes americanos terão acesso menor ao mercado chinês a partir de agora, em reação à escalada de tarifas iniciada pelos Estados Unidos contra produtos chineses —e também refletindo as bilheterias a cada ano menores de Hollywood no país. O público vem se voltando a chineses como “Ne Zha 2“, que se tornou a quinta bilheteria da história.
Uma das atrações do festival neste ano é uma exposição com 150 cartazes de “Ne Zha 2” pintados à mão pelo diretor da própria animação, Yang Yu. Outra é a aposta em jovens cineastas chineses, com uma mostra de filmes da Nova Onda Chinesa, com nomes como Lina Wang e Yongkang Tang.