Por Marta Barros
Os condomínios de casas para idosos vêm ganhando espaço no país, atendendo às necessidades de parte da população idosa que não tem família ou que opta por não morar com familiares. Engana-se quem pensa que esse tipo de condomínio para idosos fica restrito aos grandes centros e é novidade. Em São Luís (MA), iniciativa do gênero existe desde 1953.
Criado pelas irmãs da Ordem de São Vicente de Paulo, o condomínio de 15 casas fica na rua de mesmo nome (São Vicente de Paulo), no bairro João Paulo. É administrado e mantido pela Associação das Senhoras de Caridade de São Vicente de Paulo, a partir de doações recebidas pela Associação.
De acordo com Maria do Socorro Mesquita Saraiva, diretora do Núcleo do João Paulo (um dos quatro núcleos da Associação e responsável pelo Abrigo), o lugar começou com casas humildes, de taipa. As doações foram proporcionando a construção das casas de alvenaria, com sala, quarto, copa/cozinha e banheiro, além do galpão central utilizado para atividades comunitárias como realização de missas, palestras, consultas médicas e festas destinadas às moradoras. Segundo ela, no Brasil a iniciativa é pioneira.
A informação é confirmada por Maria Eugênia Borges, também voluntária da Associação. Segundo ela, a princípio as casas, construídas em um terreno deixado de herança por uma família, serviriam para abrigar os empregados da instituição. Com o tempo, o lugar foi sendo organizado por senhoras conhecidas que contaram com a ajuda de amigas para as melhorias do lugar e posteriormente destinado a idosas.
Somente mulheres com idade igual ou acima de 60 anos moram no condomínio no qual pagam apenas as contas de água e luz. As despesas pessoais e gastos com alimentação são responsabilidade das moradoras, todas aposentadas e que administram o próprio salário. Também administram a própria casa, já que o lugar dispõe de uma pessoa apenas para a limpeza dos espaços comuns.
Moradoras
As moradoras têm liberdade para entrar e sair a hora que quiserem, desde que comuniquem a ausência, explica Socorro Mesquita. Poucas, no entanto, usam esse direito. A maioria prefere mesmo é ficar em casa, assistindo televisão, deitadas ou “fazendo coisas de casa”, como dizem algumas. Solidão? Nenhuma delas relata. Também são poucas as vezes que visitam a casa umas das outras.
Uma das mais antigas moradoras do lugar (11 anos e três meses), Alzenira Costa Pinheiro, 76 anos, natural de Penalva, é uma dessas. Tem família – irmão, filha adotiva e neto – mas gosta mesmo é de viver na própria casa, no Abrigo. “Aqui todo mundo se dá bem”, diz.
“Solteirona”, como ela mesma se denomina, 74 anos, natural de Vitorino Freire, Alzira Mesquita é uma dos 10 vivos de uma prole de 15 irmãos. Há cerca de 22 anos no lugar, diz que fez a opção de morar lá “para ter a experiência de ser dona de casa” (morava com uma família, conta). Não sente solidão, apesar das raras visitas (os irmãos moram longe e apenas duas irmãs a visitam raramente. Só sente falta da família quando adoece e precisa ir ao médico.
Já Maria Madalena Silva Santos, 79 anos, moradora desde 1985, não tem esse problema. A filha vai diariamente ajudá-la nas tarefas da casa e fazer companhia. A filha queria que a mãe morasse com ela, conta, mas “a casa cheia de filho e o genro que bebia muito” a fizeram optar pela tranquilidade do Abrigo. “Aqui a vida é tranquila, maravilhosa”, resume.
Mas se boa parte das moradoras prefere ficar em casa, o mesmo não acontece com Magnólia Demétria da Silva, 81 anos, há 11 anos morando no lugar. “Saio muito. Passo o dia ‘correndo beirada’, diz.
Nascida em São Luís, morou 45 anos no Rio de Janeiro e dois na Suíça, nesse país com um afilhado. Sempre foi independente, garante. Até hoje viaja muito. Voltou para São Luís porque “tinha na cabeça que o mundo iria acabar em 2000”. Decidiu viver esse final perto da família. No abrigo, costuma receber visitas das colegas. Os familiares vão no dia do aniversário. Não sente solidão, garante.