O coro uníssono das centenas de fãs que lotavam o teatro do navio Costa Favolosa, no último domingo (18), ecoava uma coletiva declaração de amor. Em meros segundos, porém, aquelas vozes se transformariam em um ensurdecedor turbilhão de gritos.
Era a reação à chegada de Roberto Carlos, 77, que, com uma camisa social rosa, subira ao palco para falar com jornalistas a bordo do navio, ancorado no Rio para a 15ª edição do “Emoções em Alto Mar”. O cruzeiro zarpou no sábado (16), de Santos, e segue pelo litoral até esta quarta-feira (20).
As referências às declarações da ministra Damares de que “menino usa azul e menina usa rosa” foram inevitáveis. “Estou querendo fugir do azul, que virou um TOC, e estou vestindo rosa porque me garanto como homem”, brincou o cantor.
Política
Durante a entrevista, o rei fez questão de não se esquivar de nenhuma pergunta. Sobre os planos do presidente Jair Bolsonaro para flexibilizar o porte de arma no país, citou a crise na segurança pública para indicar apoio à proposta. “Vivemos em uma guerra com um dos lados armado e o outro desarmado”, disse, explicando que cresceu com um pai com acesso a armas.
Comumente acusado de ter se mantido neutro durante a ditadura militar, ele também falou da música “Debaixo dos “Caracóis dos Seus Cabelos”, que lançou em 1971 em homenagem ao então exilado Caetano Veloso.
Segundo ele, a canção não deve ser interpretada pelo viés político. “Caetano é um grande compositor e artista, mas politicamente nós temos ideias completamente diferentes”, explicou. Veloso é conhecido por defender propostas alinhadas à esquerda.
Projetos
No ano em que completa 60 anos de carreira, Roberto Carlos tem vários projetos em mente, mas não faz ideia de quando os lançará. “Comigo, as coisas não andam muito rápido”, admitiu.
Focado no mercado hispânico, para o qual acaba de lançar o álbum “Amor Sin Límite”, Roberto agora quer lançar um material para os brasileiros. “Estou tentando fazer um disco em português há mais de cinco anos. Quero gravar também em italiano”, revela.
O longa sobre sua vida, dirigido por Breno Silveira (“2 Filhos de Francisco”), está em fase de pré-produção. “O filme está seguindo uma linha de total verdade sobre minha história. Queremos fazer algo muito bem feito, o que demanda tempo. A pressa é a inimiga da perfeição”, afirma.
Com a voz embargada, o Rei elogiou o filme “Minha Fama de Mau”, sobre o amigo Erasmo Carlos. No longa dirigido por Lui Farias, Roberto é intepretado pelo ator Gabriel Chalita. “Me emocionei e me emociono quando falo nele. O Gabriel e o Chay [Suede, que dá vida ao protagonista] mandaram muito bem”, diz.
À noite, ele subiu ao mesmo palco para cantar seus maiores sucessos. Como é tradição, distribuiu flores ao final – para delírio das centenas de fãs apaixonadas.