No dia 24 de abril é comemorado o Dia Internacional do Cão-Guia. A homenagem é mais do que justa para esses cães que se dedicam à nobre missão de conduzir deficientes visuais. É graças a eles que pessoas cegas ou com baixa visão têm mais qualidade de vida, segurança e autonomia em suas vidas.
O que muitas pessoas não sabem é que fora do Brasil há cães-guia para auxiliar em outras necessidades, não apenas pessoas cegas. Mas por aqui, ainda não há treinamento para cães auxiliarem pessoas diabéticas ou tetraplégicas. Apenas vemos cães-guia com cegos. E o número de cães ainda é baixo, devido ao custo de manutenção do animal e todo treinamento.
Apesar de terem sua importante atividade regulamentada por lei, os cães-guias ainda são escassos no Brasil e insuficientes para atender a grande demanda. Segundo dados do IBGE (Censo 2010), existem mais de 6,5 milhões de pessoas com alguma deficiência visual no país. Não existem estatísticas oficiais de cães-guias, mas estima-se que sejam menos de 200. E basta observar o entorno para verificar que são muito poucos em ação.
Formação
Geralmente, os cães selecionados para o trabalho de guia são labradores, por uma questão de habilidade e temperamento. Sua formação inclui cerca de um ano e três meses de socialização em casa de família hospedeira (voluntária), depois mais um ano de treinamento técnico (em parceria com o Corpo de Bombeiros) até, enfim, estarem prontos para o trabalho de guiar deficientes visuais. Uma vez prontos, os cães passam em média dez anos atuando como guias até se aposentarem.
CÃES–GUIA TRANSFORMAM A VIDA DE DEFICIENTES VISUAIS NO RECIFE
Em agosto de 2013, o professor Gustavo Tavares Dantas, 43 anos, ganhou uma companheira inseparável. O nome dela é Aisha, uma cadela da raça Golden Retriever, que é seus olhos desde então. “É um presente de Deus”, agradece Gustavo. “Minha história com Aisha é muito bonita, é de companheirismo. Passei mais de 30 anos andando com uma bengala, sou cego desde os meus dois meses de idade. Andar com uma ajuda de um cachorro foi algo desafiador e apaixonante ao mesmo tempo. Estou há cinco anos com ela e há cinco anos que não saio sem a minha companheira. Ela é um pedaço meu. É um complemento do meu corpo”, comenta.
Aisha é um dos seis cães-guia formados pela Escola Cão-Guia do Kennel Club do Estado de Pernambuco. Em média, ocorrem duas entregas por ano e a ação de preparo envolve o esforço de muita gente. “Os cães viveram com famílias acolhedoras voluntárias por cerca de um ano, até atingirem a idade para o treinamento técnico. Para realizar este projeto, o Kennel Club foi adaptado. Construímos um espaço com ruas, calçadas e sinais de trânsito para simular situações do nosso deslocamento do dia a dia para o cão e o deficiente. O espaço também conta com alojamentos para receber o contemplado durante parte do treinamento”, explica Luiz Alexandre Almeida, presidente do Kennel Club de Pernambuco.
Com apoio da Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), a Escola de Cão-Guia de Cegos do Kennel Club do Estado de Pernambuco foi criada em 2010. Em 2013, comemorou a entrega do primeiro cão-guia formado pelo clube. O projeto é uma iniciativa sem fins lucrativos. “Temos a intenção de ampliar este projeto e preparar mais cães-guias, mas para isso precisamos de um maior suporte financeiro. Atualmente, temos uma lista de espera de 10 pessoas”, conta Luiz Alexandre.
O cão-guia é um animal adestrado para guiar e auxiliar pessoas cegas ou com grave deficiência visual no dia a dia. Eles têm capacidade de discernir perigos e obstáculos nos percursos dos deficientes. O trabalho é fruto de um trabalho orquestrado e rigoroso de adestramento. O processo de formação desses animais começa na seleção da ninhada. “Com 45 dias, já selecionamos o animal por uma série de características, como a independência. Após isso, eles são enviados para casa de famílias acolhedoras, que vão socializa-lo por até nove meses. Daí eles vêm aqui para o clube e iniciamos o treinamento que pode durar até dois anos”, completa o presidente.
O professor de braile Ivanilton Portela é outro contemplado pelo projeto. No dia 26 de novembro de 2016, no dia de seu aniversário, ele ganhou Mamute, um cão-guia da Raça Golden Retriever. O laço de amizade entre os dois é tão forte que Mamute não deixa Ivanilton sozinho e o professor tatuou o rosto de seu melhor amigo no braço. “Minha vida mudou para melhor com Mamute. Além dos meus olhos, ele significa muito para mim. Minha família toda o ama”, comenta Ivanilton.
Além de Mamute e Aisha, os cães-guia Simba, Argus e Jolie também foram formados pela Escola Cão-Guia de Pernambuco. Em 2019, mais duas entregas serão realizadas. Os cães Luke e Dalila, da raça Labrador Retriever, estão em fase final de treinamento para serem os olhos e companheiros da advogada Ana Wanessa Vasconcelos Dias e do professor de música Rodrigo de Moura Cardoso.
Com a missão de integrar e disseminar a boa cinofilia no Brasil, a Confederação Brasileira de Cianofilia (CBKC) apoia os criadores do país e acompanha de perto projetos sociais como a Escola de Formação de Cães Guia de Cego e a Clínica de Cinoterapia José Ivan Sobral, especializada no atendimento de crianças portadoras do Transtorno do Espectro Autista, desenvolvidas pelo Kennel Club do Estado de Pernambuco. Dentre outros projetos espalhados pelo Brasil que contam com o suporte da CBKC.