Tratado que nem cachorro. Em Canoas, na Região Metropolitana, a expressão comumente utilizada para se referir a maus-tratos tem outro sentido: desde julho, foram criados oito “cãodomínios”, espaços que acolhem cerca de duas dezenas de animais de rua da cidade.
— São bem felizes e todo mundo quer o bem deles. É como se fossem nossos, eu atravesso a rua e eles vêm correndo — afirma a “cachorreira” Maria Fátima de Oliveira, 62 anos, que trabalha em uma clínica ao lado das casinhas de acolhimento, no centro do município.
Vacinados, castrados e com coleiras antipulgas, Alemão, Lilica e Pretinha vivem no primeiro loteamento, à espera de adoção. No local, grandes dutos de concreto foram instalados no portão de entrada, para evitar o estacionamento de veículos. Correntes protegem as coloridas casinhas de furtos. Uma faixa com o criativo trocadilho que batizou os espaços cita a lei estadual 15.254, sancionados em janeiro e que permite que as prefeituras prestem apoio aos animais desassistidos.
A responsabilidade pelos pets é compartilhada entre o Executivo municipal — que cedeu terrenos públicos ou de sua posse — e os moradores que, além do afeto, garantem a alimentação dos cães.
— Há muitos cães nas ruas e não podemos deixar ao relento enquanto não conseguem um lar — explica o adestrador Alex Szekir, vice-Presidente do Conselho Municipal do Bem-Estar Animal (Combea).
Os locais com o selo “cãodomínio” são escolhidos a partir de demandas da comunidade, onde há animais já cuidados pela vizinhança. A construção das casinhas pode partir de arrecadação dos próprios moradores ou da prefeitura.
Também é permitida instalação dos abrigos em calçadas públicas, desde que não atrapalhem a circulação de pedestres. Em alguns casos, as coberturas foram erguidas na rua, e o conselho atuou na orientação e escolha do melhor ponto para serem alocados.
— Ninguém deve usar isso para abandonar os animais, até porque isso é crime. Fiscalizamos através das redes sociais e da comunidade, que conhecem bem os cães de suas ruas — complementa Szekir.
Em um estacionamento no bairro Marechal Rondon, Preto e Preta são cuidados pelo guardador de automóveis Lindoberto Grandini, 65 anos.
— A gente ajuda porque gosta muito dos bichinhos — diz.
Dona de um restaurante nas proximidades, Maria Rodrigues, 47 anos, separa carne e leva as refeições diárias para a dupla.
— Aqui na quadra eles são atração, vão nos comércios e depois dormem aqui — explica a empresária.
A estimativa da prefeitura de Canoas é de que 10 mil cães vivam nas ruas da cidade.