Sete anos depois de embolsar R$ 930 milhões pela venda da Ypióca para a Diageo, a família Telles, do Ceará, não quer mais saber de cachaça. Nos últimos quatro, a família investiu R$ 200 milhões com recursos próprios e transformou o que eram negócios satélites da Ypióca em empresas independentes no ramo de distribuição de combustíveis (YPetro), embalagens de papelão reciclado (Santelisa) e água mineral (Naturágua).
A cláusula de “no compete” na venda para a multinacional inglesa encerrou-se em 2017, mas a nova geração que está assumindo os negócios torce o nariz diante das especulações de que voltaria ao ramo de bebidas alcoólicas. “Avaliamos isso, mas por que competir com o que a gente
mesmo criou e muito bem feito?”, diz Paulo Telles, presidente do grupo.
Paulo Telles, de 47 anos, membro da quinta geração da família, assumiu a presidência do grupo no ano passado, no lugar de seu pai, Everardo, 76 anos, que ficou na presidência do conselho de administração da empresa. A sucessão faz parte de um planejamento que a empresa executou em 2018, criando três vice-presidências e uma presidência executiva.
O grupo tem, além de Ypetro, Santelisa e Naturágua, negócios menores no setor de agropecuária e de embalagens plásticas (Yplastic). O faturamento total é de R$ 360 milhões, praticamente o mesmo que faturava a Ypióca na época da venda à Diageo. A previsão é que em 2020 chegue a R$ 440 milhões. “Investimos quando ninguém estava investindo e vamos começar a colher os frutos agora”, diz Aline Telles Chaves, vice-presidente de operações do grupo.
Nenhum dos negócios da família está à venda, “mas se tiver preço a gente vende”, diz o patriarca Everardo. “Tudo tem seu preço.” Embora já tenha cedido as ações do grupo a seus sete filhos, Everardo ainda tem poder de decisão no grupo, com usufruto das cotas.
O grupo tem como principal negócio hoje a distribuição de combustíveis, que deve encerrar o ano com vendas brutas de R$ 180 milhões. Mas é com o negócio de água que obtém as melhores margens.
Por isso, é consenso na família que a única operação que não pode ser vendida é a de água mineral. “É o negócio do futuro e nunca tem crise. O Brasil tem ainda um consumo per capita muito abaixo do que se vê na Europa e nos Estados Unidos”, diz Aline Telles Chaves.
A empresa já fez um investimento de R$ 50 milhões em uma nova unidade de engarrafamento de água em Horizonte, na região metropolitana de Fortaleza, e já pretende fazer outro no Rio Grande do Norte. Com isso, a Naturágua dobra sua capacidade de produção dos atuais 400 mil litros por dia para 800 mil litros por dia.
Em paralelo, a empresa investiu em equipamentos de sopro e produção de tampas, ampliando a atuação da Yplastic para empresas da área de limpeza e alimentos, além de bebidas.
Logo após a venda da Ypióca, a operação no setor de agronegócios passou por um período difícil, pois a produção ficou baseada em commodities.
Everardo contou que o grupo, então, decidiu redirecionar o foco, ampliando o portfólio com a fabricação de óleos essenciais, defensivos orgânicos, probióticos e insumos para o agronegócio. Passou a atuar também no ramo de biocombustíveis (biodiesel).
Segundo Paulo Telles, a maior parte dos recursos da venda da Ypióca está investida no mercado financeiro. “A gente busca investir em negócios da economia real, que é o nosso DNA, gerar emprego, produção.
Os retornos do mercado financeiro nos servem de parâmetro para que a gente busque desempenhos superiores”, afirma. “Nem sempre isso é possível, mas temos uma visão de longo prazo”, diz.