A grande repercussão gerada pela demissão do repórter Adalberto Neto do Grupo Globo, após imagens gravadas por ele mostrando parte da equipe de plantão comemorando a conquista da Libertadores pelo Flamengo viralizarem, fez com que o profissional quebrasse o silêncio e se pronunciasse. Em carta enviada à Coluna Leo Dias, o repórter disse que não sabe, de fato, se sua demissão teve algo a ver com os vídeos publicados. “Realmente, não foi informado o motivo da minha demissão. Meu editor apenas disse que foi um pedido da direção pelo ‘conjunto da obra’, mas ele não soube responder – ou não podia – me informar a respeito.”, conta. Entretanto, ao se despedir de seus colegas de trabalho, quase todos, apontaram os vídeos publicados em seus stories sobre a comemoração da vitória rubro-negra como a motivação da dispensa.
Segundo Adalberto, se a ‘obra’ a que seu superior se referiu foi mesmo o vídeo, é muito curioso que só ele tenha sido desligado da empresa, sem qualquer advertência prévia, e aponta a questão racial – o repórter é negro – como razão para demissão. “Para quem tem o mínimo de letramento racial, é impossível não racializar essa minha demissão.”, diz ele, que apesar da declaração de racismo, não culpa a empresa, nem a direção, nem seu editor. “A culpa não é nossa. Vem lá de trás. Da colonização“.
O repórter diz que é preciso ter uma visão mais ampla para entender a questão. “Um país, uma empresa […] são feitos por pessoas. E se as pessoas não conseguem ter um olhar amplo sobre tudo, suas ações, de modo geral, nunca vão ser eficientes e, em alguns casos, bastante injustas, carregadas de conceitos e preconceitos, que nem pensamos na hora, porque fazem parte da estrutura sobre a qual a nossa sociedade se formou. É automático também.”
Adalberto reforça que o motivo do seu pronunciamento não tem o menor intuito de difamar o jornal ou alguém. “Em todas as lutas dessa vida é importante que estejamos juntos. O inimigo nunca é o outro, mas certas formas de pensar, que levam a certas maneiras de agir.”, escreveu ele, que, apesar de se dizer grato ao Grupo Globo, apontado como “um diferencial na carreira de qualquer jornalista”, aconselha a empresa a aumentar o número de profissionais negros nos cargos de liderança.
“Entre os editores executivos, só há uma mulher preta, e que é incrível, diga-se de passagem. A diversidade não é bacana apenas no campo da discussão nem para mostrar que estamos antenados com o momento, em que a questão se tornou mais que urgente. A diversidade é a vida. E é preciso saber viver. A gente já canta isso! É só aplicar.”
Procurada para comentar as declarações do ex-funcionário, a assessoria de imprensa do jornal O Globo, a exemplo de quando procurada para saber se a demissão tinha relação com o vídeo gravado e viralizado, informou que não comentaria o desligamento do repórter.