O Palácio do Planalto cancelou ontem a nomeação de Maria do Carmo Brant de Carvalho para a Secretaria de Diversidade Cultural feita pela secretária especial de Cultura, Regina Duarte. Entrevista de Regina à TV Globo foi criticada por aliados, como Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), e subordinados, como Sérgio Camargo (Fundação Palmares).
O Palácio do Planalto cancelou, na noite de ontem, a nomeação de Maria do Carmo Brant de Carvalho para a Secretaria de Diversidade Cultural. Indicada pela secretária especial de Cultura, Regina Duarte, ela havia sido nomeada para o cargo na sexta e não tomou posse.
No primeiro discurso após tomar posse, Regina disse ao presidente Jair Bolsonaro que não se esqueceria de que tinha recebido a promessa de “carta-branca”. Em seguida, ao respondêla, Bolsonaro afirmou que exerceria o poder de veto, como já fez em todos os ministérios.
Uma edição extra do Diário Oficial da União tornou sem efeito a designação. O ato é assinado apenas pelo ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, e foi visto como retaliação por parte do grupo olavista que apoia o governo. No domingo, ao Fantástico, da Rede Globo, Regina Duarte disse que existe uma “facção” no governo que deseja retirá-la do cargo.
Oficialmente, a assessoria da Secretaria de Cultura se limitou a dizer que o cancelamento da nomeação ocorreu por “entraves burocráticos”. Questionada se Maria do Carmo poderá voltar a ser designada, a secretaria não respondeu.
Filiada ao PSDB desde 1989, Maria do Carmo havia sido indicada por Osmar Terra para o governo Michel Temer como secretária nacional de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário. Em 2014, ela atuou como coordenadora da área social do programa de governo do então candidato à Presidência Aécio Neves. O Estado apurou que Maria do Carmo planejava se desfiliar do PSDB para entrar no governo Bolsonaro.
Pela manhã, o ministério do Turismo, ao qual a Secretaria de Cultura é subordinada, publicou o currículo da profissional, que é doutora em Serviço Social pela PUC-SP. Ela também foi integrante do Conselho Superior de Responsabilidade Social da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), secretária adjunta de Assistência Social de São Paulo e superintendente do Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária. “Ela ficará responsável, entre outras funções, por articular e coordenar ações de fomento às expressões culturais populares”, destacou o site da pasta.
Críticas. Após a entrevista à Globo, Regina recebeu críticas públicas do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, do escritor Olavo de Carvalho e do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, subordinado a ela.
Apontado como um dos fiadores da entrada da atriz no governo, Ramos disse à reportagem que “não foi boa” a declaração de Regina. Ele ainda defendeu Camargo, chamado pela atriz na entrevista de “ativista” e de “problema”. Ramos também virou alvo de críticas nas redes. O bolsonarista Allan dos Santos, do site Terça Livre, escreveu: “O problema, na minha opinião, não é tanto o boneco (Regina Duarte), mas o ventríloquo (@MinLuizRamos), o amiguinho da Rede Globo”.
Desde que foi anunciada como substituta na Cultura de Roberto Alvim, demitido por parafrasear o nazista Joseph Goebbels, a atriz tem recebido uma enxurrada de críticas nas redes sociais. Os ataques partem de apoiadores de Bolsonaro que não gostaram de demissões de integrantes conservadores.
Em um post nas redes, o escritor, professor e guru conservador Olavo de Carvalho escreveu que a nova secretária “não está boa da cabeça”. “A Regina Duarte age como se o seu emprego no governo lhe pertencesse por direito natural contestado apenas por ‘uma facção bolsonarista’, quando na verdade foi essa facção, representada pelo presidente da República, que lhe deu o emprego.”
Para interlocutores do governo, Regina ainda está “aprendendo” a lidar com a política, mas, mesmo sob ataques, deve permanecer no cargo. As mesmas fontes dizem que as críticas devem servir como recado à atriz de que, apesar do aval para escolher a equipe, os nomes devem estar alinhados ao governo.
Um dos pontos em disputa entre a equipe de Regina e integrantes da ala conservadora do governo é a manutenção de Camargo à frente da Palmares, entidade
vinculada à Cultura. Segundo a assessoria da nova secretária, Bolsonaro e Regina não trataram desse assunto. O presidente da Palmares também não a teria procurado. Após a entrevista de Regina Duarte, ele ironizou e desejou “bom dia a todos”, exceto para quem “chama apoiadores do Bolsonaro de facção”.
Além da queda de braço para demitir Camargo, a nova secretária deve insistir na nomeação do produtor teatral Humberto Braga, cotado para “número 2” da Cultura. O nome de Braga é o principal alvo de ala que considera a gestão da atriz pouco alinhada com valores de Bolsonaro. Para fontes no Planalto, ele nem será nomeado.