Por iniciativa do deputado Wendell Lages (PMN), a cantora maranhense Alcione será condecorada, nesta quinta-feira (29), na Assembleia Legislativa, com a Medalha do Mérito Legislativo “Manuel Beckman”. A solenidade acontecerá às 11h, no Plenário da Casa parlamentar.
“Por tudo o que representa para a arte e a cultura nacional, Alcione é merecedora desta homenagem”, destaca Wendell Lages.
Alcione Dias Nazareth, também conhecida no meio artístico como “Marrom”, nasceu em São Luís, no dia 21 de novembro de 1947. O nome de batismo foi ideia do pai, inspirado na personagem Alcione, protagonista do romance espírita “Renúncia”, psicografado por Chico Xavier. Ela é a quarta de nove irmãos: Wilson, João Carlos, Ubiratan, Alcione, Ribamar, Jofel, Ivone, Maria Helena e Solange.
Desde pequena, graças ao pai policial e integrante da banda de sua corporação, João Carlos Dias Nazareth, ela foi inserida no meio musical maranhense e fez sua primeira apresentação aos 12 anos. O pai foi mestre da banda da Polícia Militar do Maranhão e professor de música da antiga Escola Técnica Federal, atual IFMA. Além disso, foi compositor e entusiasta do bumba meu boi. Foi ele quem a ensinou, ainda cedo, a tocar diversos instrumentos de sopro, como o trompete e clarinete, que começou a praticar aos 9 anos.
Com essa idade, tocava e cantava em festas de amigos e familiares e na Queimação de Palhinha da festa do Divino Espírito Santo. Sua mãe, Filipa Teles Rodrigues, entretanto, guardava o desejo de que a filha aprendesse a tocar acordeão ou piano. Não queria que Alcione aprendesse a tocar instrumentos de sopro temendo que a filha ficasse tuberculosa, crendice comum naquela época.
Sua primeira apresentação profissional foi aos 12 anos, na Orquestra Jazz Guarani, regida por seu pai. Certa noite, o crooner da orquestra ficou rouco, sendo substituído pela menina. Na ocasião, cantou a canção “Pombinha Branca” e o fado “Ai, Mouraria”.
Alcione afirma que seu pai era “bom homem” e incentivava as filhas a serem independentes desde muito cedo, a nunca obedecerem a homem nenhum, além de lhes ensinar valores morais rígidos. Aos 18 anos de idade, formou-se como professora primária na Escola de Curso Normal. Lecionou por dois anos, quando foi demitida aos 20 anos, por ensinar a seus alunos como se tocava trompete, que seu pai lhe ensinou quando pequena, querendo passar o aprendizado que recebeu.
Dedicação à música
Após a demissão, continuou a dedicar-se à música de forma mais intensa e exclusiva. Conseguiu uma vaga em um sorteio e apresentou-se na TV do Maranhão. Ficou fixa na TV, apresentando-se nos anos 1960 até o início dos anos 1970 e, além de cantar na TV, também cantava em bares e boates em várias cidades do Maranhão. Querendo alcançar rumos maiores, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1972.
Não conhecia nada no Rio e quem a ajudou a se estabelecer foi seu amigo, o cantor Everaldo. Com ajuda dele também, Alcione começou cantando na noite, ocasião em que Everaldo lhe apresentou as boates e bares da cidade. Ensaiava no Little Club, boate situada no conhecido Beco das Garrafas, reduto histórico do nascimento da bossa nova, em Copacabana. Cantou também em boates como Barroco, Bacarat, Holiday e Bolero.
Começou a se inscrever em programas de calouro e foi sendo chamada para se apresentar. Venceu as duas primeiras eliminatórias do programa “A Grande Chance”, de Flávio Cavalcanti. Nessa mesma época, conheceu a famosa TV Excelsior. Se inscreveu, conseguiu fazer um teste de voz e passou com boa colocação. Assinou o primeiro contrato profissional com essa TV, apresentando-se no programa “Sendas do Sucesso”.
Depois de seis meses na emissora, realizou turnê por quatro meses pela América Latina, sendo a primeira vez que saiu do Brasil. Após ter feito excursão também por países da América do Sul, recebeu proposta de turnê na Itália, e assim morou na Europa por dois anos. Voltou ao Brasil em 1972.
Alcione visitou a quadra da Mangueira pela primeira vez em 1974 e logo foi convidada a desfilar. Na concentração, a ausência de um destaque levou a bela estreante ao alto de um carro alegórico. Desde então, a cantora é membro destacado da escola. Em 1987, participou da fundação da escola de samba mirim Mangueira do Amanhã, e hoje é presidente de honra do grupo.
Homenagens
Em 1989, foi homenageada pela escola de samba Independentes de Cordovil, no então chamado grupo 2, a segunda divisão do Carnaval carioca, com o enredo “Marrom som Brasil”. Posteriormente, em 1994, foi novamente homenageada pela tradicional Unidos da Ponte, desta vez no grupo especial do Carnaval carioca, com o enredo “Marrom da cor do samba”. Em 2018, a tradicional escola de samba Mocidade Alegre (SP) homenageou os 70 anos de vida e os 45 anos de carreira de Alcione, com o enredo “A voz marrom que não deixa o samba morrer”.
Alcione já interpretou sambas de exaltação às escolas de samba: Estação Primeira de Mangueira, Mocidade Independente de Padre Miguel, Imperatriz Leopoldinense, União da Ilha do Governador, Beija-flor de Nilópolis e Portela.