De azarão a campeão. A história do título do Fluminense, conquistado neste sábado, na vitória por 2 a 1 (1 a 0, na prorrogação) sobre o Boca Juniors, no Maracanã, também narra a trajetória do responsável pela maior glória do tricolor em mais de 120 anos. O jovem John Kennedy, autor do gol decisivo, estava distante do clube que o projetou para o futebol no começo do ano. Sob as mãos de Fernando Diniz, teve seu recomeço e agora completa o retorno triunfal.
O camisa 9 fez gol em todas as fases de mata-mata do torneio. Nas oitavas, sacramentou a classificação contra o Argentinos Juniors. Nas quartas, abriu o caminho para vitória contra o Olimpia, no Paraguai. Na semifinal, iniciou a remontada histórica de seis minutos, contra o Internacional, que colocou o Fluminense na decisão contra o Boca.
Desta vez, não foi titular, entrou durante o jogo. Mas a grande novidade que Diniz implantou neste meio de temporada tricolor precisava ser o nome do título. E assim o fez. Quando entrou em campo, no lugar de Ganso, parecia que o Maracanã todo sabia que seria ele a definir essa decisão. Era uma questão apenas de saber qual momento do jogo.
Mas esse momento parece ter sido uma eternidade. Horas antes de a bola rolar, as torcidas já ocupavam seus lugares no Maracanã. Ao Sul, um mar tricolor que ondulava com as bandeiras e faixas nas cores verde, grená e branca entoava o hino que embalou o Fluminense nesta Libertadores. “Vamos tricolores, vamos ganhar a Libertadores”. Era um misto de crença e vontade no mais alto volume para atrair o sonhado título.
Ao Norte, o azul e amarelo do Boca tomavam conta, mas os xeneizes não transpareciam o mesmo ímpeto dos tricolores. Os braços incansáveis que costumam reger o time pareciam ter perdido força pelos festejos dos últimos dias em Copacabana. Ou eles estavam apenas guardando a energia quando fosse realmente necessária.
O clima das arquibancadas também conta a história do jogo. A começar pela confiança que se deposita em cada jogador. Não é à toa que a torcida tricolor clama por Germán Cano e Fernando Diniz num tom acima dos demais. Louros ao artilheiro de toque único do time e ao técnico capaz de fazer o Fluminense jogar bonito, de forma eficiente e de mudar tudo quando preciso com suas cartas na manga.
Pela atuação deste sábado, a justiça também foi feita. Desde o começo, quando os argentinos encalacravam sua defesa e buscavam contra-ataques, e o Fluminense quebrava a cabeça para chegar ao gol de Romero, Cano era o mais aplicado, parecia obstinado a encontrar seu destino.
Primeiro, uma cabeçada. Depois, um chute cruzado sem perigo de canhota. Na terceira vez, agiu à melhor maneira: desvencilhando-se, encontrando o espaço na hora certa, dando um toque, aos 35 minutos. Esse é o artilheiro da Libertadores, um argentino que fez explodir o Maracanã e calou milhares de compatriotas presentes no estádio.
A bola veio de outros jogadores que nunca se esconderam da responsabilidade. Após tabelar com Arias, Keno presenteou o artilheiro com uma assistência açucarada. Mas o Fluminense tem suas falhas, e jogadores que não atuaram à altura do esperado na decisão, como Ganso e Marcelo, que seriam substituídos no final do segundo tempo. A opção por Martinelli, no lugar de John Kennedy, também deixou o time mais preso.
Com a vantagem em mãos e uma torcida dominante no estádio, tudo parecia a favor do tricolor. Ainda havia outro componente. Na fase mata-mata desta edição da Libertadores, o Boca não havia saído atrás no placar. Como será que a equipe portenha, inferior tecnicamente e com um jogo mais defensivo, reagiria à nova situação.
Pois bem
Nunca se pode duvidar de um gigante sul-americano, que buscava seu sétimo título de Libertadores para se igualar ao também argentino Independiente como maiores vencedores da América.