O estado do Maranhão estará representado por 14 artistas na exposição Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro, a mais abrangente mostra dedicada exclusivamente à produção de artistas negros já realizada no país. Com abertura agendada para esta quarta-feira, 2 de agosto, no Sesc Belenzinho, em São Paulo, a mostra parte da premissa de dar luz à centralidade do pensamento negro no campo das artes visuais brasileiras, em diferentes tempos e lugares. A fase expositiva se prolongará até 28 de janeiro de 2024.
Com curadoria assinada por Igor Simões, em parceria com Lorraine Mendes e Marcelo Campos, Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro, apresentará ao público obras de 240 artistas negros – entre homens e mulheres cis e trans, de todos os Estados do Brasil – em diversas linguagens como pintura, fotografia, escultura, instalações e videoinstalações, produzidos entre o fim do século XVIII até o século XXI.
Representando o estado estarão presentes obras de Boi de Pindaré, Debis e Pablo Monteiro, Edi Bruzaca, Emanuely Luz, Gê Viana, Gleydson George, Jean Ribeiro, Pablo Figueiredo, Pedro Neves, Silvana Mendes, Sunshine Castro, Ton Bezerra e Zilmar.
Trajetória – A ideia nasceu em 2018, um projeto de pesquisa fruto do desejo institucional do Sesc em conhecer, dar visibilidade e promover a produção afro-brasileira. Para sua realização, foram convidados os curadores Hélio Menezes e Igor Simões. Em 2022, o projeto passa a ter a curadoria geral de Simões com os curadores adjuntos Marcelo Campos e Lorraine Mendes. A partir de 2024 uma parte da mostra circulará em espaços do Sesc por todo o Brasil pelos próximos 10 anos.
Para se chegar a esse expressivo e representativo número de artistas negros, presentes em todo o território nacional, foram abertas duas importantes frentes.
Na primeira, foram realizadas pesquisas in loco em todas as regiões do Brasil com a participação do Sesc em cada estado, com o objetivo de trazer a público vozes negras da arte brasileira.
Essas ações desdobraram-se em atividades e programas como palestras, leituras de portfólio, exposições, entre outros, com foco local. Vale ressaltar que esse processo teve uma atenção especial para que não se limitasse apenas às capitais do país, englobando também a produção artística da população negra de diversas localidades, como cidades do interior e comunidades quilombolas.
A equipe curatorial pesquisou obras e documentos em ateliês, portfólios e coleções públicas e particulares, para oferecer ao público a oportunidade de conhecer um recorte da história da arte produzida pela população negra do Brasil e entender a centralidade do pensamento negro na arte brasileira.
A segunda frente foi a realização de um programa de residência artística online intitulado “Pemba: Residência Preta”, que contou com mais de 450 inscrições e selecionou 150 residentes. De maio a agosto de 2022, os integrantes foram orientados por Ariana Nuala (PE), Juliana dos Santos (SP), Rafael Bqueer (PA), Renata Sampaio (RJ) e Yhuri Cruz (RJ). A residência, que reuniu artistas, educadores e curadores/críticos, contou ainda com uma série de aulas públicas com a participação de Denise Ferreira da Silva, Kleber Amâncio, Renata Bittencourt, Renata Sampaio, Rosana Paulino e Rosane Borges, disponíveis no canal do Sesc Brasil no YouTube.
Núcleos – A proposta curatorial rompe com divisões como cronologia, estilo ou linguagem. Para esta exposição de arte negra, não caberá a junção formal, estilística ou estética.
Dessa maneira, os espaços expositivos do Sesc Belenzinho contarão com sete núcleos: Romper, Branco Tema, Negro Vida, Amefricanas, Organização Já, Legítima Defesa e Baobá, que têm como referência pensamentos de importantes intelectuais negros da história do Brasil como Beatriz Nascimento, Emanoel Araújo, Guerreiro Ramos, Lélia Gonzales e Luiz Gama.
EXPOSIÇÃO DOS BRASIS – ARTE E PENSAMENTO NEGRO
Do Maranhão
Boi de Pindaré – São Luís (MA), 1960
Núcleo Amefricanas
O Bumba Meu Boi de Pindaré é considerado pelos mestres e mestras da cultura maranhense como o primeiro grupo de boi-bumbá com sotaque da baixada, em São Luís. Reconhecido internacionalmente, o grupo tornou-se famoso a partir de Mestre Coxinho, que gravou em 1972 a toada Urrou do boi, considerada o hino cultural do Maranhão. O sotaque do bumba meu boi do Maranhão manifesta características próprias, presentes no tipo de personagens que compõem o cordão, nas indumentárias, no ritmo, na dança e na maneira de se relacionar com o sagrado.
Debis -São Luís (MA), 1992, Pablo Monteiro – São Luís (MA), 1991
Núcleo Branco Tema
Debis é poeta, socióloga e slammer maranhense. Recita suas poesias em batalhas presenciais ou virtuais, em eventos e competições. A artista constrói suas rimas tendo como base a luta e a resistência do povo negro, denunciando a violência e a opressão experimentadas pelos corpos negros. Em seu repertório, utiliza referências de outras mulheres negras, como Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo.
Formado em História pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Pablo Monteiro atua coletivamente como mediador na produtora Bicho D’Água Filmes, realizando conteúdos audiovisuais a partir do imaginário da periferia. Desenvolve trabalhos documentais, explorando o uso da imagem e do som. Sua poética gira em torno das práticas ligadas à cultura afro-maranhense.
Edi Bruzaca – São Luís (MA), 1987
Núcleo Organização Já
Edi Bruzaca é licenciado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), é produtor de várias iniciativas culturais em prol do graffiti maranhense, como: Encontro de Graffiti Beco do Abraço e Encontro Nacional de Graffiti Riscos e Rabiscos. Participou de grandes festivais de arte urbana no cenário nacional e internacional. Seu trabalho busca uma linguagem lúdica, explorando os estilos de graffiti e misturando sua realidade urbana com o universo onírico.
Emanuely Luz – São Luís (MA), 1985
Núcleo Organização Já
Mestra em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Emanuely Luz começou a trabalhar com fotografia em 2013. Participou de exposições coletivas na cidade de São Luís e ganhou Medalha de Bronze no Festival Internacional Brasília Photo Show. Em sua produção imagética, as cenas e as figuras pertinentes à cultura maranhense ganham visibilidade.
Gê Viana – Santa Luiza (MA), 1986
Núcleo Romper
Artista de origem indígena, nascida no povoado maranhense Centro do Dete, é formada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), vive e trabalha em São Luís. Fotógrafa, performer e pesquisadora, a busca das origens da herança indígena e afro-brasileira, o reimaginar da iconografia e das narrativas relacionadas a estes povos no imaginário histórico e popular, são os elementos expressos em suas obras através da experimentação com a visualidade dentro da fotomontagem, da intervenção urbana e do pixo.
Gleydson George – São Luís (MA), 1995
Núcleo Negro Vida
Fotógrafo, cursa Licenciatura em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA). Gleydson George, realiza fotografias de rua em que busca, contemplar e investigar a construção visual dos corpos dentro dos contextos que vivencia, ponderando sobre as diversas culturas que ocupam o Maranhão, observando-as a partir da perspectiva e do entendimento das raízes indígenas e afro diaspóricas desse território.
Jean Ribeiro – Bacuri (MA), 1973
Núcleo Organização Já
Artista visual, curador independente, gravador, escultor, arte educador e sócio-fundador do ateliê Obatalá Nilá. Por meio da xilogravura, propõe uma experimentação com gravuras profundamente entalhadas e relacionadas ao corpo humano, à religiosidade, à figura dos orixás, de mulheres, e de mães.
Pablo Figueiredo – São João Batista (MA), 1999
Núcleo Amefricanas
Nascido no interior do Maranhão, utiliza a fotografia e o audiovisual como meios de ressignificação de novas formas de existência, por meio de vivências, memórias e saberes.
Pedro Neves – Imperatriz (MA), 1997
Núcleo Negro Vida
Graduado em Estudos de Patrimônio Cultural, praticante de capoeira de Angola e pesquisador de manifestações culturais e saberes brasileiros não institucionalizados, o artista une seu estudo cromático a referências da história da arte moderna e contemporânea brasileira, arte bizantina, youkais japoneses, arte da América pré-colonial e objetos e máscaras de África, assim gerando questionamentos sobre a ideia de figuração e retrato no campo da pintura.
Silvana Mendes – São Luís (MA), 1991
Núcleo Amefricanas
Multiartista visual, graduanda em Artes Visuais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), participou de exposições como Um defeito de cor (Museu de Arte do Rio), Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro (Instituto Inhotim) e 40º Arte Pará. Por meio das “Afetocolagens”, procura desconstruir os estereótipos impostos ao corpo negro ao longo da história do Brasil. Utilizando lambes, colagens e o muralismo, questiona os lugares de poder na arte por meio do que considera uma “didática artística descolonizadora”.
Sunshine Castro – São Luís (MA), 1987
Núcleo Legítima Defesa
Mestranda em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), artista visual e turismóloga, possui em seu currículo exposições e residências artísticas, como Mulheres Negras em Residência e Pemba: Residência Preta. Utilizando a fotovivência, vídeos e instalações como linguagem para seu trabalho, a artista investiga a subjetividade afro-brasileira, com foco na mulher negra, a partir de uma escrita insurgente e prática de colonial.
Ton Bezerra – Cedral (MA), 1977
Núcleo Negro Vida
Nascido na comunidade de pescadores de Outeiro (MA), iniciou seu contato com a arte ao observar a produção das canoas pelas mãos de seu pai e de outros pescadores. Exposições como À Nordeste (Sesc 24 de Maio) e o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea de 2015 fazem parte de sua carreira. Com foco na performance, tensiona e revisa parâmetros, propondo a construção de espaços de reflexão crítica a partir da denúncia dos aspectos coloniais existentes no Brasil.
Zimar – Matinha (MA), 1959
Núcleo Romper
É brincante do Cazumbá do Bumba meu Boi (ou Boi-Bumbá) e, por meio das caretas, incorpora a personagem vestida com mantos bordados e um badalo na mão. As caretas, “máscaras” que paramentam a figura mágica, unem humor e assombro. As criações de Zilmar revelam a destreza do artista na utilização dos mais diversos materiais e na ergonomia das peças, que carregam uma linguagem única entre si. Em 2022, realizou uma exposição dedicada a suas caretas, no Centro Cultural Vale Maranhão.