“Conheces a região onde florescem os limoeiros? laranjas de ouro ardem no verde escuro da folhagem; conheces bem ? Nesse lugar, eu desejava estar”. Ao escolher o poema “Mignon” do alemão Goethe para epígrafe da “Canção do Exílio”, escrito em Coimbra em julho de 1843, o maranhense Gonçalves Dias fazia emergir mais uma vez seu amor à terra natal. Isso foi há 180 anos.
Em 2023 é comemorado o centenário do nascimento do mais ilustre escritor maranhense. A Academia Maranhense de Letras coordena as comemorações do bicentenário do poeta, nascido na data de fundação da Casa de Antônio Lobo.
Na sexta-feira, 3, a Fedração das Academias de Letras do Maranhão reuniu imortais de todo o estado na AML para debater sobre o calendário comemorativo. A FALMA está completando 15 anos em 2023.
Pedaços da memória
Antônio Gonçalves Dias (1823-1864) chegou ao mundo na fazendo Jatobá, em Caxias, no dia 10 de agosto de 1823. Pedaços dessa fazenda foram recolhidos pelo escritor Nascimento Moraes Filho no período em que ziguezagueou pelo estado a trabalho. É um tronco rugoso, que Nascimento dizia ser madeira da casa em Caxias onde nasceu o menino filho bastardo do comerciante português João Manuel Gonçalves Dias com a escrava Vicência Mendes Ferreira.
Quando regressava para a terra das “palmeiras, onde canta o Sabiá”, em 1864, a bordo do navio Ville de Boulogne, Gonçalves Dias foi tragado pelas águas da baía de Cumã, em frente à praia de Aruoca, no município de Guimarães. “Bendita a vida que tal preço vale, E que merece de acabar assim!”. Estava escrito em uma placa demarcadra da tragédia em Aruoca. Foi o único a morrer no naufrágio. Já estava prostrado havia tempo. Podia-se dizer, se encontrava no leito da morte.
Findava assim a vida do poeta romântico e nascia o mito do primeiro poeta maranhense. Dum mundo a outro, impelido pelo amor, o poeta Gonçalves Dias derramou os seu lamento românticos para a musa Ana Amélia.
Em 1840 foi para Portugal cursar Direito na Faculdade de Coimbra. Ali, entrou em contato com os principais escritores da primeira fase do Romantismo português.
A saudade da terra o trespassava quando escreve em Coimbra a “Canção do Exílio“.
No ano seguinte graduou-se bacharel em Direito. De volta ao Brasil, iniciou uma fase de intensa produção literária. Em 1849, junto com Araújo Porto Alegre e Joaquim Manuel de Macedo, fundou a revista “Guanabara”.
Em 1862 retornou à Europa para cuidar da saúde. De sua obra, geralmente dividida em lírica, medieval e nacionalista, destacam-se “I-juca Pirama”, “Os Timbiras” e “Canção do Tamoio”.
Meninos, eu vi!
Qual o verso de I-Juca Pirama, a Praça Gonçalves Dias, debruçada sobre o Rio Anil e de frente para a baía de São Marcos é um lugar onde se testemunha os pendores ao romantismo de São Luís, cidade onde se diz que quem aqui dorme nasce poeta.
Localizado na Ponta do Romeu, em tempos passados pertenceu à Ordem de São Francisco, a praça tem no centro a imagem do poeta elevado às alturas que desde 1955 é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN.
O Largo dos Amores é ponto de encontro de namorados no fim de tarde, quando o sol se põe em múltiplas matizes na baía de São Marcos, lá pras bandas do Itaqui, inspirado os últimos românticos do dia. Inaugurado em 15 de outubro de 1890, o largo fica em frente à Igreja dos Remédios, onde os fiéis se reúnem principalmente no mês de outubro para os festejos religiosos da protetora do comércio. A festa do passado é assim descritas pelo jornalista João Francisco Lisboa: “Um dos maiores benefícios que dispensa a Virgem com a sua festa, e que escapou ao Frei Doroteu no seu Sermão é este prazer universal, tantas classes confundidas. Tantas dores adormecidas, tantos escravos deslembrados de seus ferros. Inda mal, que tudo tão fugaz! Não importa, é um momento de repouso neste lida que só tem a morte como termo, é um conforto para recomeçar-se com mais vigor a tarefa do dia seguinte. Mil ferventes e gratas orações à compassiva e misericordiosa Virgem”.
O monumento em homenagem ao poeta no centro da praça começou a ser construído na data de aniversário de seu nascimento em 1872. Foi inaugurada em 7 de setembro do ano seguinte. Em torno dele estão as palmeiras aludidas no poema mais famosos de Gonçalves Dias.
O local é cenário realista para o desenrolar do enredo de um amor proibido, como o de Dias por Ana Amélia Ferreira Vale. Renegado pela família de Domingos Vale, principalmente na voz de Dona Lourença Vale, Gonçalves Dias amargou o amor insatisfeito por toda sua vida.
Saiba mais sobre Gonçalves Dias
‘Dias e Dias’ é a biografia romanceada da escritora cearense Ana Miranda, lançado pelo Cia. das Letras em 2002, ganhador do Prêmio Jabuti no ano seguinte. A história combina ficção e realidade. As cartas trocadas entre Gonçalves Dias e o amigo e também poeta Antonio Teófilo de Carvalho Leal expõem todos os lados do autor de “Ainda uma vez adeus”.
Feliciana, uma jovem sonhadora e obstinada; o poeta romântico Antonio Gonçalves Dias, por quem ela nutre uma longa e intensa paixão, e o sabiá simbolizando o eterno exílio, a terra em transe sempre permanente na vida do poeta romântico. De Caxias para São Luís. De São Luís novamente para Caxias e de lá para Coimbra. De Coimbra para o Rio de Janeiro, para Paris, para Manaus e de volta de São Luís para sempre preso nos baixios da baia de Cumã.