Patricia Kogut – O Globo
Quem repete que as novelas das 19h são vocacionadas para a comédia tem que rever conceitos. Uma das melhores tramas dos últimos tempos, “Bom sucesso” ocupou o horário com temas difíceis tratados com elegância e delicadeza. Não tem nada de histriônica. Um desses temas foi o ciúme entre pai (Alberto/Antonio Fagundes) e filho (Marcos/Romulo Estrela) por causa de Paloma (Grazi Massafera). Agora, ela chega à reta final puxada por uma interrogação fúnebre: como morrerá Alberto?
O público já cansou de perguntar “quem matou?”, “quem vai ficar com quem?” ou ainda “como será a punição para o malvados?”. Mas o mistério em torno dos momentos finais de um protagonista é algo inédito. E há muita expectativa envolvendo isso agora. Tal drama é árido, mas está sendo conduzido com suavidade pelos autores, Rosane Svartman e Paulo Halm.
Nos capítulos mais recentes, por exemplo, o editor vem aparecendo com frequência trocando experiências com a neta. Sofia (Valentina Vieira) é pequena, mas muito madura. Ela sabe que vai perder o avô e encara conversas difíceis. Dia desses, quis saber se existe vida após a morte. Ele disse que ninguém tem certeza disso. E, como sempre em “Bom sucesso”, esse foi um pretexto para recorrer à literatura. Alberto leu um trecho de um poema de Santo Agostinho: “A morte não é nada/ Eu somente passei/Para o outro lado do Caminho/Eu sou eu, vocês são vocês/O que eu era para vocês/Eu continuarei sendo”, declamou para a garota. Foi uma das sequências mais comoventes da novela e prova de que temas graves podem ser tratados com lirismo e até com leveza.
Apesar dos exageros recentes no núcleo de Diogo (o excelente Armando Babaioff), a novela chega ao fim deixando saudades. Nenhuma trama ficou sem conclusão e todo mundo do elenco teve sua oportunidade de brilhar. Por coincidência, por alguns meses Fagundes foi visto também no Vale a Pena Ver de Novo, em “Por amor”. Na história de Manoel Carlos, ele era Atílio, um charmoso sedutor. Essa, portanto, foi uma chance de o público constatar que o ator é muito maior do que os papéis de galã que a televisão lhe destinou por razões de physique du rôle, mas não de limitação de talento. Ele vem fazendo seu “Quasímodo”, como Alberto já se autodefiniu, com igual competência e entrega. Viva ele.
Os autores, calibraram muito bem sua história. “Bom sucesso” misturou a coragem para avançar nos seus motes centrais espinhosos e esbanjou competência na forma de abordá-los. Que essa dupla não demore a voltar à televisão.
Esta foi uma chance de constatar que Fagundes é muito maior do que os papéis de galã que a TV lhe destinou