Congressistas brasileiros e americanos vão lançar um manifesto conjunto em defesa da democracia. A carta será aberta a adesões individuais de outros parlamentares, inclusive de outros países. O objetivo é formar uma aliança supranacional entre Legislativos contra novos ataques.
O anúncio foi feito nesta quinta-feira (2) pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPI do 8 de janeiro, após reunião com o deputado democrata Jamie Raskin, um dos integrantes da comissão que investigou a invasão do Capitólio e líder da acusação no segundo processo de impeachment contra o ex-presidente Donald Trump.
Inicialmente, a carta será assinada do lado brasileiro por Eliziane e os cinco congressistas que integram a comitiva –o senador Humberto Costa (PT-PE) e os deputados Jandira Feghali (PC do B-RJ), Henrique Vieira (PSOL-RJ), Rafael Brito (MDB-AL) e Rogério Correia (PT-MG). Do lado americano, devem assinar Raskin e outros cinco democratas.
Após a reunião, Raskin afirmou que o grupo está “explorando algumas ideias diferentes para atrair parlamentares de todo o mundo em defesa explícita da democracia”.
“A ideia é que isso possa ser o embrião de uma grande mobilização nos parlamentos mundiais e entre governos também, inclusive entre instituições interparlamentares já existentes, no sentido de estabelecer fortemente a defesa da democracia, da luta contra as ameaças fascistas que existem hoje no mundo”, afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE).
Na mesma linha, Feghali disse que a ideia é construir com os demais parlamentares que aderirem ao texto um fórum presencial para alcançar desdobramentos concretos.
O eixo central será a defesa da democracia, reafirmando eleições livres e transparentes, e o combate a qualquer atentado contra ela. Outros pontos que devem ser abordados são o combate à desinformação e o compromisso com a diversidade e pluralidade.
“Não é uma frente partidária específica, é suprapartidária em torno da democracia, portanto respeita a pluralidade de ideias e procura ter como foco o extremismo, práticas autoritárias e antidemocráticas”, afirmou Henrique Vieira.
Na véspera, a comitiva brasileira se reuniu com o senador Bernie Sanders e, na terça (30), com os deputados democratas Jim McGovern, Greg Casar, Chuy Garcia e Delia Ramirez. Segundo os participantes, os americanos também sinalizaram apoio à iniciativa dos brasileiros.
“Ambas as sociedades continuam hoje envolvidas na luta para defender a democracia contra pessoas que tentaram derrubá-la em prol da autocracia e da ditadura. Então, estamos na mesma luta e na mesma batalha”, afirmou Raskin nesta quinta.
Em outra frente, os congressistas brasileiros tiveram uma reunião na terça na CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), vinculada à OEA (Organização dos Estados Americanos), e propuseram a criação de uma relatoria sobre crimes contra a democracia, nos moldes de outras subcomissões existentes no organismo, como povos indígenas e mulheres.
Também foi discutida a instalação, em separado, de uma comissão de acompanhamento permanente sobre milícias no Brasil.
A visita da comitiva brasileira a Washington (EUA) nesta semana, organizada pelo Instituto Vladimir Herzog, ocorre em paralelo a uma articulação entre bolsonaristas e republicanos. Eduardo Bolsonaro (PL-SP) já esteve na capital americana ao menos duas vezes neste ano acompanhado por congressistas e influenciadores aliados.
Uma audiência com a presença do jornalista americano Michael Shellenberger, que divulgou os arquivos do Twitter relacionados ao Brasil, do CEO da rede conservadora Rumble, Chris Pavlovski, e do ativista brasileiro Paulo Figueiredo Filho, alinhado ao bolsonarismo, está prevista para a próxima terça em um subcomitê presidido pelo republicano Chris Smith.
A iniciativa faz parte de uma ofensiva internacional coordenada por Eduardo Bolsonaro para angariar apoio a alegações de perseguição e censura no Brasil. Além de visitas frequentes a Washington —houve ao menos outras duas, em novembro e fevereiro—, ele esteve no início do mês na Bélgica, em missão ao Parlamento Europeu.
Da Folha