Após observar recuperação no ano passado, o setor de livrarias e editoras de livros foi surpreendido pela pandemia de covid-19, que interrompeu esse processo de retomada. A afirmação é de Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e sócio da editora Sextante, entrevistado da Live do Valor pelo editor de Cultura, Robinson Borges, na sexta-feira.
“Nós vínhamos de uma recessão da economia. Se lembrarmos, a Fnac deixou o país, e a Laselva e a Saraiva entraram em recuperação judicial em 2018. Então, 2019 tinha sido um ano de recuperação, um ano de alento. Agora, a pandemia atacou em cheio. Tivemos o fechamento das livrarias e o pânico, o medo e a incerteza levaram a muitas negociações e à atuação de cada um dos agentes da cadeia do livro a tomar medidas de proteção para pensar no futuro”, disse Veiga Pereira.
No entanto, o empresário e sindicalista destacou que começou a haver um reencontro do brasileiro com o gosto pela leitura. “De maio para cá, temos visto números muito positivos e agosto foi um mês espetacular, porque houve muitas promoções on-line”, disse.
Essa recuperação do mercado está muito concentrada na internet, mas as livrarias ainda estão muito concentrada na internet, mas as livrarias ainda estão sofrendo, afirmou Veiga Pereira: “As livrarias estão abrindo aos poucos. Mas elas têm um papel fundamental na nossa cadeia, a introdução de novos títulos, que é um o ponto de encontro, de descoberta, de troca de ideias. Então, isso vai ser ponto fundamental daqui para frente.”
Em sua opinião, a volta dos lançamentos pode ser um fator de impulso para as livrarias físicas voltarem as atividades a níveis mais próximos dos normais, já que novos títulos atraem leitores.
O sindicato tem motivado os livreiros a estimularem o retorno do público às livrarias apesar do cenário ainda de pouca mobilidade por causa da pandemia e do fato de várias livrarias no país estarem dentro de shoppings centers, que estão com horários restritos. “Temos estimulado os livreiros a atraírem o público para as livrarias, principalmente agora no fim do ano, que é superimportante”.
Após um momento de dificuldades para o setor e agora com as mudanças de hábitos estimuladas pela pandemia, Veiga Pereira disse acreditar que serão cada vez menos comuns as megastores, grandes livrarias com acervos e itens diversos.
“Com o advento do varejo on-line fica muito mais fácil ter um enorme acervo, com o estoque concentrado em um grande armazém. Muito mais fácil do que numa loja, que é cara”, afirmou Veiga Pereira. Para ele, o setor vai voltar às origens, com a figura do livreiro que conhecia os títulos e fazia indicações. “A nova livraria vai ter que voltar a essa ideia mais romântica do bom profissional, de um bom acervo e um espaço agradável. E a característica da livraria local vai ser fundamental”, afirmou, citando a rede britânica Waterstones, cujas lojas têm características próprias em cada endereço.
Segundo o empresário, o setor tem buscado entender as propostas de reforma tributária e dialogar com deputados e a equipe técnica do governo federal. Ele argumenta que o pedido do mercado editorial para que seja mantida a imunidade tributária aos livros não é “pedido descabido”. “Eu só quero reconhecimento da mesma imunidade que está prevista na Constituição da isenção da CBS, caso o PL 3.887 siga a tramitação normal”, disse.
A proposta do governo federal (Projeto de Lei 3.887), que estabelece a criação da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), implica a incidência de alíquota tributária aos livros. Veiga Pereira destacou que em 2004 a isenção do PIS e da Cofins sobre os livros levou à diminuição de preços e permitiu que houvesse um efeito positivo de aumento do público leitor.