Morreu nesta terça-feira (16) aos 50 anos, em Imperatriz (MA), o músico Cruz Gago. Vítima de Covid, o autor de “Tentei te esquecer” ficou conhecido quando participou do Profissão Repórter. O editor-executivo do programa, Caio Cavechini, que o entrevistou em 2007 e 2016, presta homenagem a um dos personagens mais inesquecíveis do Profissão. Leia abaixo:
“Tentei te esquecer… não deu. Estamos em cima do palco, uma multidão cantando junto com Leonardo. Do lado dele, o compositor dessa música que rodou o Brasil nos anos 2000, Cruz Gago. “Tentei te esquecer”… É a deixa para o público responder, em automático: “Não deu”.
Me arrepio hoje de novo, revendo esses momentos todos. Pensei em começar um texto em sua homenagem de outra forma. É difícil. Seu refrão é simples e poderoso, isso eu já disse, e é também conhecido o suficiente para fazer mais gente se interessar um pouco por esse texto, parar um pouco para pensar no que ele fez, mandar boas energias para sua família hoje que Cruz Gago acaba de nos deixar, aos 50 anos, vítima da Covid.
O Profissão Repórter ainda era um quadro no Fantástico, de 10 minutos, com edições especiais de uma hora ao longo daquele 2007. Fui ao Maranhão dirigir uma rádio novela sobre trabalho escravo, colaboração com um grupo de teatro e ativistas locais. No fim do dia, comendo uma pizza com o grupo, descubro que um deles estava tentando a sorte no Paraíba Pop Star. Voltei para São Paulo, contei do concurso, pedi pra viajar de novo e nessa segunda viagem eu descobri a história de Cruz Gago, já conhecido na região pela composição de sucesso que acabo de citar.
O que se seguiu foi contado num programa de 2007, “Em Busca da Fama”, em que Cruz Gago ganha a primeira etapa, em Imperatriz, mas perde a finalíssima, em Teresina. Em vez de cantar “Tentei te Esquecer”, Cruz Gago preferiu ir de Frejat, “Segredos”. Naquela época, alguém achou que a derrota deixava um gosto amargo no fim de um programa de histórias alegres, e sugeriu o encontro de Cruz Gago com Leonardo, que cantaria em Penápolis, interior de São Paulo, em alguns dias. Foi assim que se produziu aquela cena. Caco, Leonardo, Cruz Gago e eu, no palco.
O que se seguiu foi contado num programa de 2007, “Em Busca da Fama”, em que Cruz Gago ganha a primeira etapa, em Imperatriz, mas perde a finalíssima, em Teresina. Em vez de cantar “Tentei te Esquecer”, Cruz Gago preferiu ir de Frejat, “Segredos”. Naquela época, alguém achou que a derrota deixava um gosto amargo no fim de um programa de histórias alegres, e sugeriu o encontro de Cruz Gago com Leonardo, que cantaria em Penápolis, interior de São Paulo, em alguns dias. Foi assim que se produziu aquela cena. Caco, Leonardo, Cruz Gago e eu, no palco.
Nove anos depois, eu reencontro Cruz Gago com uma pergunta provocativa: “Você não tem medo de ser conhecido como um cara de um sucesso só?”. Ele responde que nunca tinha pensado nisso. Com o sorriso aberto, sempre generoso, sempre sonhador, via a minha presença como uma nova chance.
É difícil para quem trabalha em reportagem para a televisão lidar com uma dicotomia que quase sempre nos acompanha: queremos contar uma história como ela é, mas muitas vezes o simples fato de contar essa história faz com que ela se transforme. E mesmo quando não se transforma, a presença de uma câmera já é suficiente para gerar expectativas, alimentar sonhos. Afinal, quantos bons artistas existem no país, esperando apenas uma improvável combinação de talento, sorte, contatos e momento para respirarem acima da linha da água e serem notados?
A pergunta provocativa eu tentei consertar depois, dizendo que eu passaria pela vida sem nunca produzir um sucesso como o dele. E ainda disse (e isso não coube na edição) que “Tentei Te Esquecer” acompanhava minhas listas desde o primeiro iPod, ou até antes dele, um MP3 da Foston, com capacidade de 20 ou 30 faixas, comprado num camelô. Mas muita gente não entendeu – e me criticou com bastante veemência – por eu ter jogado realismo demais na esperança de um cara batalhador. Era uma relação que se estabelecera muito tempo antes, com os exageros numéricos do entrevistado e minha tentativa – que eu achava bem humorada – de fazê-lo pôr os pés no chão.
Cruz Gago tinha o bom humor e a capacidade de improviso que todo repórter espera de um entrevistado. Quando em 2007 minha pergunta amadora foi: “O que mais você já fez para ficar famoso?”, reduzindo sua vida numa pauta, ele respondeu com um sorriso largo: “Até garimpo… Menos assaltar”.
Quando eu perguntei porque ele usaria uma jaqueta de couro no calor de 35 graus na noite de Teresina, ele disse que estava no “estilo Tazmania”. E quando eu o repreendi por não conseguir tirar a mesma jaqueta na cena dramática da apresentação, ele me mostrou a barriga e culpou as calorias, rindo de si mesmo. Quando, 9 anos depois, eu passei horas no carro o acompanhando em seu novo trabalho como motorista da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, falando das paixões humanas com um grupo de engenheiros, ele concluiu, enfático: “O amor acidenta o homem mais do que o trânsito”.
Hoje Cruz Gago partiu. Antes da hora. Seus filhos estavam começando a seguir o pai nos pequenos shows e serestas do interior do Maranhão, Pará e Tocantins. É neles que eu penso agora. Para a Glória, o Victor e o Everest, deixo a minha homenagem e meus sentimentos. Seu pai foi grande, um homem de um sucesso na música e três sucessos na vida. De muitos amigos e admiradores. De cantar tecnobrega e sucessos internacionais dos anos 80. De chamar todo mundo de Imperatriz e redondezas para aparecer no programa também.
Cruz Gago perdeu a vida para a Covid, importante repetir. Que todos nós possamos cuidar de quem está próximo. Infelizmente ela ainda está aí, acidentando os homens mais do que o amor, mais do que o trânsito”.