Em 13 de maio deste ano, o romance O Cortiço (livro 33 da coleção Clássicos Hiperliteratura), de Aluísio Azevedo, completa 129 anos. Para celebrar a data, o Hiperliteratura selecionou algumas curiosidades sobre o romance, um dos mais importantes da nossa literatura.
1. Brasileiros antigos e modernos
Em outubro de 1885, Aluísio Azevedo anunciou o esboço de um projeto literário ousado nas páginas do periódico A Semana. Ele imaginou um retrato em cinco romances intitulados, no conjunto, Brasileiros antigos e modernos, que abarcariam a sociedade brasileira do Império, desde o seu nascimento até a sua ruína (que ele imaginava próxima). Os cinco livros se chamariam: O Cortiço, A família brasileira, O felizardo, A loreira, A bola preta. Deles, apenas o primeiro seria lançado.
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2. Precursor do marketing editorial no Brasil
Pode-se dizer que Aluísio Azevedo foi um precursor, sob diversos aspectos, do Marketing Editorial no Brasil. Além de ser considerado um dos primeiros escritores (talvez o primeiro) a viver de literatura no Brasil, sabia como ninguém usar o poder da sua “rede social” (sim, o seu “networking” ou “rede de contatos”) para criar e implementar estratégias de “buzz”, divulgar e vender seus livros.
Para o lançamento de O Homem, por exemplo, seu romance de 1887, o destemido Aluísio, com a ajuda de vários amigos, foi para as ruas distribuir panfletos anunciando o romance. Como resultado, no dia da primeira exposição do livro, foram vendidos no balcão uns 300 exemplares. Foi justamente a amplitude, a novidade e o sucesso de suas campanhas publicitárias (além da qualidade de seu texto) que o levariam à editora Garnier, a mais prestigiosa da época, que lançaria O Cortiço em 13 de maio de 1890.
Na foto acima, a Gazeta de Notícias anuncia a chegada próxima do livro de Aluísio. Vários trechos do romance foram publicados em jornais do Brasil inteiro e, segundo uma outra matéria da época, a primeira edição (1.000 exemplares) esgotou-se em poucos dias.
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3. A Estalagem, digo, O Cortiço
Aluísio usou no romance vários elementos autobiográficos. O uso deles nas obras de ficção não constituía, pelo menos para Aluísio Azevedo, novidade. Pegue-se como exemplo A condessa Vésper (Memórias de um condenado), de 1882, em que o autor já lançava mão desse recurso para esboçar no personagem Gustavo — um boêmio por necessidade, jornalista, escritor, desenhista — , as aventuras, a batalha, para se levar uma vida decente, que lembravam as do próprio Aluísio Azevedo.
O romancista chegou a fazer de Gustavo o porta-voz de seus próprios projetos literários. Leia esse trecho:
Enquanto D. Joana chamava pela negrinha que na casa representava o papel de copeiro, Gustavo sem se desfazer do chapéu e da bengala, dizia de si para si, a recordar-se das muitas vezes em que da janela do seu quarto ficava a contemplar a habitação do cortiço: deve ser aquela mulheraça gorda e azafamada que estava sempre a ralhar com as crianças e de quem copiei o tipo da Brigona no meu romance “A estalagem”.
Ora, o título desse suposto romance de Gustavo, A estalagem, não é outro senão o título inicial da obra publicada por Aluísio em 1890: O Cortiço. Pode-se mesmo, pela cena acima, lembrar-se de trechos em que o cortiço é observado de cima, das janelas do sobrado de Miranda.
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4. No cortiço, bebia-se cerveja Carlsberg
De vez em quando, também se bebia uma Carlsberg na estalagem de São Romão…
“Daí a pouco, Augusta apresentou-lhe uma xícara de café, que Léonie recusou por não poder beber. ‘Estava em uso de remédios…’ Não disse, porém, quais eram estes, nem para que moléstia os tomava. ‘Prefiro um copo de cerveja, declarou ela’. E, sem dar tempo a que se opusessem, tirou da carteira uma nota de dez mil-réis, que deu a Agostinho para ir buscar três garrafas de Carls Berg”. [Capítulo 9].
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5. 50 personagens e suas relações
Mind Map com mais de 50 personagens que integram O Cortiço, incluindo o principal: o próprio cortiço São Romão. E o mapa ainda não está completo…
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6. O Cortiço em números e nuvem de tags
Todo livro tende a ser trabalhado como um “pequeno banco de dados”, que se comunica com outros bancos de dados, tornando-se um banco de dados ainda maior. Mas isso, Borges, há muitos anos, já teria avisado (com outras palavras). Se os números (de certa forma) se transformaram na própria narrativa do nosso tempo, O Cortiço poderá ser “lido” também como um conjunto de 79.516 palavras (média de 5 caracteres por palavra; 17.307 palavras “únicas”); ou 462.274 caracteres, ou 5.664 sentenças (média de 14 caracteres por sentença), ou 2.271 parágrafos. O “de” com suas 3459 ocorrências abocanha 4,3% da “densidade de palavras” no romance; e o “não”, com 1.117 ocorrências, 0,14%.
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7. Duas cenas do Cortiço nos traços do grande chargista Belmonte