A escritora Jane Austen (1775-1817) segue movimentando leitores ao redor do mundo. Em 2025, quando se completam 250 anos de seu nascimento, no dia 16 de dezembro de 1775, 21 cidades de norte a sul do Brasil celebrarão a data com chás temáticos que reúnem especialistas e superfãs da obra da escritora inglesa. Os encontros fazem parte de uma extensa programação organizada pela Jane Austen Sociedade do Brasil, que promove uma série de palestras e debates online até esta quarta, 17, mas são uma pequena amostra de centenas, talvez milhares, de eventos realizados ao redor do mundo em homenagem à autora de Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade e Emma, entre outros clássicos.
Com apenas seis livros publicados, dois deles postumamente, Austen, que nasceu em Steventon, na Inglaterra, deixou alguns poucos textos incompletos e somente um conjunto singelo de cartas. Ainda assim, sua produção foi suficiente para que se tornasse um dos poucos nomes do cânone da literatura mundial cuja obra também ganhou um lugar cativo na cultura pop – de que as inúmeras adaptações para o cinema e televisão são testemunhos importantes.
As celebrações pelos 250 anos de Austen são bem variadas e vão desde congressos acadêmicos nas principais universidades do mundo – em novembro, por exemplo, a Universidade de São Paulo recebeu o Simpósio Internacional Jane Austen 250 – até encontros que atraem fãs vestidos a caráter, simulando bailes do século 18, nos quais são exibidos filmes e séries inspirados em seus romances.
Atualidade
O que explica a perenidade do trabalho de Austen? Para Adriana Sales, presidente da Jane Austen Sociedade do Brasil e professora do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, o texto da escritora realmente não envelhece. Os muitos temas de sua obra – amor, casamento, status social, amizade, direitos femininos, direito ao estudo, herança, entre tantos outros – permanecem atuais.
Mais do que isso, Adriana acredita que a capacidade de observação crítica de Austen permitiu a criação, em seus livros, de personagens tão complexos e tridimensionais que geram identificação hoje mesmo eles estando no contexto social de dois séculos atrás.
“O que ela traz com maestria é esse texto muito bem amarrado de histórias. Como ela própria disse em uma das cartas que deixou, três a quatro famílias do interior da Inglaterra eram suficientes para construir todo esse microcosmo”, explica a professora.
“Ainda que as condições tenham melhorado muito no que diz respeito à vida das mulheres, há muitas coisas que lemos nos romances da Austen que ainda nos dizem respeito”, afirma Sandra Guardini Vasconcelos, professora titular de Literaturas de Língua Inglesa da USP e autora, entre outros, de A Formação do Romance Inglês, publicado em 2017 pela editora Hucitec.
Para a professora, Austen “é uma escritora muito sagaz”. “O que me encanta também é ver o que ela conseguiu fazer dadas as circunstâncias das mulheres dessa época. É um feito mesmo, de verdade. Fico encantada também com o senso de humor dela, que é muito sofisticado e fica claro nos seus livros. Você se pega rindo, curtindo aquela ironia”, diz.
Doença
Austen era, de fato, uma figura singular entre as mulheres de sua época. Foi a sétima filha de uma família de oito irmãos, seis meninos e duas meninas. Nunca se casou e, pelos registros históricos, é possível dizer que seu objetivo era realmente tornar-se escritora como profissão, apesar de isso ser não só incomum, como malvisto pela sociedade.
Seu primeiro romance, Razão e Sensibilidade, foi escrito por volta de 1795, mas só foi publicado em 1811, de maneira anônima e depois de algumas tentativas falhas. Orgulho e Preconceito e Mansfield Park vieram em seguida, em 1813 e 1814, respectivamente. Emma, último romance publicado em vida pela escritora britânica, foi lançado em 1815.
Persuasão e Abadia de Northanger foram publicados postumamente, em 1817 – Austen morreu em 18 de julho daquele ano, aos 41 anos, após uma doença que a consumiu em um período de poucos meses. Apesar de muitas pesquisas, a enfermidade exata permanece um mistério até hoje, com teorias que vão de câncer a envenenamento por arsênio.
A difusão de sua obra passou por um crescimento gradual. Conforme explica Sandra, a escritora teve uma recepção bastante restrita ao longo do século 19. Foi somente a partir do século 20 que seus livros passaram a ocupar um lugar de importância na história do romance inglês, sobretudo do ponto de vista acadêmico. •


