Autor de “O Beijo na Parede” e “Estela sem Deus”, , escritor e professor de literatura, traz em seu novo romance, “O Avesso da Pele”, a “verdade inventada” de um filho, Pedro, sobre o seu pai, Henrique, assassinado pela polícia em Porto Alegre.
É após a sua morte que o filho de 22 anos escreve em primeira pessoa um livro que o pai, professor de literatura, não conseguiu escrever, em que seu “corpo que não vai parar de morrer” é reinventado em sua corajosa insistência pela vida.
Em um momento marcado por uma maior visibilidade dos assassinatos de homens negros cometidos pela polícia, o romance parte de um inevitável reconhecimento: a impossibilidade de o morto contar sua própria história, sobretudo quando, muitas vezes, o reconhecimento da humanidade de homens negros só se realiza quando suas vidas já foram ceifadas.
Indo além de discursos que procuram evidenciar o bom caráter e as conquistas das vítimas para salvar essas figuras de uma segunda morte, que é a redução de suas vidas a uma ligação com o crime, Tenório faz da obra um espaço não só para dizer o nome do morto —#SayHisName, diz a famosa hashtag do Black Lives Matter—, mas também para reconstituir a vida de Henrique antes da morte, “antes da pele”.
Sua profissão era para todos “o que sobrou para os perdedores”, de maneira que sua grande obra foi ter insistido em viver e em dar suas aulas tristes, sérias ou apaixonadas, que representam o seu legado.