Em um jogo eletrizante, com emoção do início ao fim, Flamengo e Vasco empataram em 4 a 4 no Maracanã. Rubro-negro, que agora está 11 pontos à frente do Palmeiras, abriu o placar com menos de 1 minuto, e o rival empatou nos descontos.
Como o futebol brasileiro ama rótulos, era natural que se instalasse o debate do técnico nacional versus o estrangeiro. Pois num confronto entre Jorge Jesus e um dos mais simbólicos nomes do futebol do país nas últimas décadas, Vanderlei Luxemburgo, o Campeonato Brasileiro ganhou um jogo de antologia. E graças a ideias e planos traçados nas duas áreas técnicas. Não há motivos para que nem Vasco, nem Flamengo, saiam do memorável 4 a 4 de ontem com sensação de derrota.
Porque o jogo reafirma o quanto este Flamengo de Jesus construiu rapidamente um arsenal de armas que lhe permite ser superior no segundo tempo de um jogo em que se vira taticamente superado na etapa inicial.
Já o primeiro tempo foi ocasião sob medida para Luxemburgo, criticado em seus últimos trabalhos, exibir saudáveis credenciais. O Vasco era melhor, só não foi para o vestiário vencendo porque se trata de futebol.
Luxemburgo apresentou uma surpresa: uma das raras vezes em que o Flamengo se viu diante de um esquema similar ao seu, um 44-2, levando a linha defensiva rubro-negra, que joga adiantada, a marcar uma dupla rápida como Rossi e Marrony — vale lembrar, o River Plate joga assim. O time teve problemas na primeira etapa e até pouco antes do gol do 4 a 4, quando Ribamar assustou Diego Alves numa bola longa às costas da defesa rubro-negra.
UM FINAL DRAMÁTICO
Pode-se argumentar que o Flamengo do primeiro tempo foi menos intenso, pressionou menos. É algo a pensar até a final da Libertadores num time com muitos minutos nas costas. Mas o Vasco tinha um plano. Marrony e Ribamar jogavam mais pelo centro do ataque, entre lateral e zagueiro rubro-negro. Pela direita do meio-campo, Raul era peça-chave.
Havia uma brecha: Guarín, mais lento, formava a dupla de volantes centrais com Richard. Na primeira bola em que precisou sair no combate a Reinier, viu o rubro-negro girar e nunca mais o alcançou: 38 segundos, gol de Everton Ribeiro.
Parecia que a vitória tranquila prognosticada seria consumada. Mas, a partir daí, dominou um Vasco que bloqueava o Flamengo e tinha outra arma: sobrecarregar o lado direito com um dos atacantes, mais Raul e Yago Pikachu.
Em dificuldade, o Flamengo tentou sair através do zagueiro Rodrigo Caio. O time foi desarmado e jamais se compensou sua ausência. Marrony arrancou, fez jogada com Raul e empatou. Depois, Pikachu levou o pênalti e virou. Era justo, até a infelicidade de Danilo Barcelos trazer um 2 a 2 meio fora do enredo. E foi também pela direita, na triangulação Pikachu, Rossi e Raul, que saiu o lance do 3 a 2.
Este, no entanto, já num segundo tempo que o Flamengo dominava. E como tem armas este Flamengo. Primeiro, a entrada de Arrascaeta fez o time recuperar movimentos ofensivos habituais: meias variando entre o lado e o centro, mobilidade dos atacantes…
E, acima de tudo, criar no adversário uma dúvida. O Vasco já marcava mais atrás, mas o Flamengo mostrou ser capaz de vencer rivais fechados. Por outro lado, é quase impossível ficar 90 minutos sem se adiantar, dar um espaço para uma arrancada, uma transição ofensiva. E, neste tipo de lance, Bruno Henrique anda intratável. Ele foi o mentor do 3 a 3.
Depois veio Vitinho, cartada de Jesus para ter um homem aberto na direita. Por ali atraiu a marcação para Arrascaeta, Gabigol e Bruno Henrique atacarem a área em igualdade numérica: 4 a 3, golaço de Bruno Henrique. Parecia definitivo, o Vasco tinha menos força ofensiva, era dominado. Mas foi premiado na última bola: o gol de Ribamar, que tira do Flamengo qualquer chance de viajar campeão para a final da Libertadores. O Maracanã viu um senhor clássico. Em tempos de disparidade, a melhor notícia foi a existência de dois times protagonistas.