RIO – O número de mortes de indígenas, entre 23 de fevereiro e 3 de outubro de 2020, divulgado pelo Ministério da Saúde é metade do que o levantado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
No período analisado, o governo contabilizou 330 mortes e a Coiab, 670. Já o número de casos é 14% menor: 22.127 registrados pelo ministério e 25.356 pelo grupo da sociedade civil.
Entre os motivos levantados pela Coiab, estão invasões dos territórios para grilagem e retirada de madeira e mineração ilegais.
— Há uma correlação direta entre a ocorrência de atividades ilegais nas terras indígenas e uma alta taxa de incidência de casos de covid-19 — diz a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Martha Fellows, que liderou o trabalho.
Ainda de acordo com a Coiab, os povos indígenas estão entre os grupos em situação mais vulnerável na pandemia da Covid-19.
“De acordo com o novo estudo, na Amazônia Legal a taxa de incidência é 136% mais alta do que a média nacional no período estudado, e 70% maior do que a média entre todos os habitantes da região. A taxa de mortalidade indígena por 100 mil habitantes é 110% superior à média brasileira e supera a média da região em 89%”, diz o grupo.
Entre os demais autores, estão pesquisadores indígenas da Coiab e cientistas da Universidade de Brasília (UnB), do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IIEB), da Fundação Oswaldo Cruz, do Lancaster Environment Center, do Reino Unido, e do Nature and Culture International, de Brasília.
O Ministério da Saúde afirma que os dados epidemiológicos relativos à covid-19 abrangem todos os indígenas atendidos pelo Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SASISUS) e são atualizados diariamente no site da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI): https://saudeindigena.saude.gov.br.
“Cabe ressaltar que os registros obedecem a critérios estritamente científicos e ao ordenamento jurídico que rege o funcionamento dos serviços de saúde indígena no Brasil”, diz a nota.