No Maranhão vivem, segundo o último Censo, 35 mil indígenas de oito etnias: Guajajara, Awá-Guajá, Ka’Apor, Krenyê, Canela, Krikati, Gavião e Timbira. Desses, quase 19 mil estão aptos a receber a vacina, de acordo com o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS). A missão é compartilhada entre as equipes do Distrito Sanitário Especial Indígena e da Força Estadual de Saúde do Maranhão.
“Passamos por rodovias com o asfalto ruim, estradas de terra, barro e até dentro de rios. Numa viagem em janeiro, tivemos que atravessar o rio de canoa”, relata o enfermeiro Henrique Queiroz, que atuava na na região de Barra do Corda, a 445 km de São Luís . “A dificuldade é muito grande, mas nós estamos tentando vencer tudo isso para levar a vacina.”
No fim do mês passado, acompanhei uma dessas expedições. Durante quatro dias, rodei mais dois mil quilômetros e visitei cinco aldeias.
Vencido o caminho até à aldeia, é preciso superar um outro tipo de resistência: combater as fake news e a desinformação. Há forte resistência em algumas comunidades, segundo líderes tribais e indigenistas, instigada por missionários evangélicos. Na aldeia Tamburi, por exemplo, houve um caso em que um indígena se escondeu na selva.
Ciente dos efeitos devastadores da doença, alguns indígenas guajarara, uma das mais populosas tribos do Brasil, se mobilizam para incentivar a vacinação entre seus pares.
Um dos responsáveis por fazer o primeiro contato é José Ribamar Guajajara. Sua função é falar com os ‘parentes’ sobre os estragos que a Covid-19 causa nos doentes. “Converso em tupi-guarani, digo que precisamos ter amor pelo próximo, não ter medo da vacina”, explica ele, que é Auxiliar Indígena de Mobilização e Políticas Sociais do distrito.
Para explicar os benefícios do imunizante, o cacique Marcelino Clemente, da aldeia São Pedro dos Cacetes, distante 80 km do núcleo urbano de Grajaú (601 km de São Luís) a esposa, a enfermeira Marinista Guajajara, percorreram outras três do distrito.
“Ninguém das nossas aldeias recusou. Ninguém teve efeito colateral. Nós fomos de casa em casa, explicando que a vacina era pra combater a doença, explicamos para os parentes”, conta o cacique, que comemora: “Só três recusaram no começo, mas depois que todo mundo tomou eles acabaram tomando também.”
“Na região de Grajaú, onde atuo, são mais de 7 mil indígenas e muitos estão com ideias erradas acerca da vacinação. Estamos lutando para descontruir essas informações falsas e levar as informações corretas, que é de que a vacina ajuda e é a principal principal arma no combate contra o Covid-19”, conta o enfermeiro Rômulo Béliche. Além de transportar e aplicar a vacina, médicos e enfermeiros estão realizando palestras e rodas de conversa para conscientizar os povos originários.
Cacique da aldeia Cajazeiras, Maria de Nazaré Guajajara recebeu a primeira dose da e conversou com outros índios sobre a importância da vacinação. “Eu disse pros parentes tomarem a vacina, para não ter medo não, que o homem branco vem na nossa aldeia para livrar a gente de doença, nós não podemos ir pra cidade, e se eles vêm procurar a gente não é pra fazer mal, é para fazer o bem. A vacina é bom, não dói não. Nós não nascemos para virar pedra, nascemos para ter saúde”.
No estado já foram aplica16.703 doses pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), sendo que 10.659 pessoas receberam a primeira dose e 6.044 a segunda. Os números são do último relatório divulgado pelo Ministério da Saúde, publicado no dia 10 de março de 2021.
Da Carta Capital