A pesquisa Retratos das Enchentes, do Instituto Decodifica, mapeia os riscos e impactos das enchentes, além das soluções encontradas para elas, em territórios periféricos dos estados do Rio de Janeiro, Pernambuco e Maranhão.
Segundo o instituto, faltam dados de qualidade sobre o impacto das enchentes nas periferias, apesar de serem áreas historicamente afetadas e cada vez mais expostas às mudanças climáticas.
“A ausência de informação já é um dado. Seja porque não se quer ter notificações sobre isso, porque não há interesse público em debater sobre ou porque o tipo de população que vive nesses espaços não é pleiteada”, diz a socióloga
O projeto pretende preencher essa lacuna através da geração cidadã de dados —processo em que os próprios moradores produzem informações a partir de seus saberes. Uma prévia dos resultados deve ser compartilhada na COP30, a conferência sobre clima da ONU (Organização das Nações Unidas), marcada para novembro em Belém.
A pesquisa se divide em três etapas. Começa com grupos focais que reúnem lideranças locais, segue com oficinas de cartografia social e educação climática junto aos moradores, e se encerra com a aplicação de questionários nas comunidades, mapeando vulnerabilidades, impactos das enchentes e formas de organização diante de eventos extremos.
Durante as oficinas, a cartografia social permitiu que moradores identificassem pontos críticos de alagamento e locais de apoio comunitário —igrejas, escolas, casas de vizinhos— que funcionam como abrigo quando a água invade a região.
Iná Odara Cholodoski, uma das desenvolvedoras da pesquisa no Instituto Decodifica.
Além de mapear riscos e soluções, o projeto ajuda os moradores a reconhecerem os impactos da crise climática e diferenciar os conceitos de enchente, alagamento e inundação.
“A gente valoriza muito a oportunidade de aproximar essa temática da população periférica, que muitas vezes não a acessa. Não entende que sofre racismo ambiental, não entende o porquê, e não tem oportunidade para falar sobre”, diz Anie Campelo, líder da Comissão Ambiental Jaboatão dos Guararapes. Segundo ela, a iniciativa também é uma ferramenta de educação.
Campelo participa da pesquisa nos bairros de Passarinhos, no Recife, e Dois Carneiros, em Jaboatão dos Guararapes (PE). As cidades são respectivamente a terceira e quarta do país com maior número de pessoas em situação de vulnerabilidade.
No primeiro semestre, os dois bairros passaram por alagamentos, que atrasaram a coleta de dados.