Aos membros deste grupo
Dirijo-me aos senhores para manifestar minha inteira solidariedade a Joaquim Itapary, que acaba de se desligar do quadro de membro efetivo da AML. Suas qualidades de escritor são raras, pois escreve como quem não precisa fazer esforço algum, numa prosa elegante e sonora. Fará, infelizmente, falta aos fins essenciais da Academia.
Quero permanecer no âmbito dos fatos. De alguns destes, até membros da Academia não têm conhecimento.
Por que Joaquim pediu desligamento da Academia, em ato raro, se não inédito, na história da Casa? Porque seu filho Maurício foi exonerado, poucos dias atrás, da direção do IPHAN no Maranhão, apesar de sua excelente administração do órgão sob sua direção, conforme as avaliações por mim ouvidas de pessoas das mais variadas orientações políticas e ideológicas. Nele não vejo razão para arquitetar história alguma diferente daquela contada aos seus amigos, acerca da responsabilidade principal pela exoneração. Por que razão iria aderir à moda e criar fakes?
Uma razão seria então Joaquim não ter votado no candidato a ocupar uma cadeira da AML, o então governador do Maranhão, Flávio Dino, hoje acadêmico da AML e ministro da Justiça do Brasil? Deixem dizer-lhes que o mesmo aconteceu comigo. Meu filho, Lino Filho, foi exonerado de um pequeno cargo, no primeiro dia do primeiro mandato de Flávio Dino como governador do Estado, na primeira lista dessa natureza encaminhada à imprensa. O motivo de sua exoneração não me pareceu a cobiça dos políticos por cargos públicos. Afinal, o que estava em jogo era uma remuneração baixíssima. Eu e Joaquim igualmente não votamos no governador, quando de sua candidatura à AML. Portanto, eu e ele, neste episódio da exoneração de Maurício Itapary, temos isto em comum: tivemos filhos afastados de governos, sem, em aparência, haver motivo moralmente relevante para o fato.
A respeito de exonerações, a de agora deu-se justamente no momento em que Joaquim e o próprio Maurício lidam com problemas sérios de morte e enfermidade séria na família.
Há mais, porém. O saudoso Andrès Phelipe, igualmente membro da AML, foi sistematicamente perseguido, durante quase oito anos, nos dois mandatos de governador de Flávio Dino. Contudo, foi recebido de braços abertos na AML. Quando Lula ia visitar o Estaleiro Escola, dirigido por Phelipe, os poucos equipamentos restantes, após retirada forçada deles ao longo de anos, pelo governo, viu-se chegarem, por fim, os dias de glória da Escola: equipes do governo aportaram lá, armados de equipamentos novos, a exemplo de aparelhos sanitários e ares-condicionados, de pintores e tinta para as paredes descascadas, de computadores e técnicos em informática, etc. Quem foi o autor do milagre? Luiz Inácio Lula da Silva. É que ele ia visitar o estabelecimento. Agora, adivinhem. Feita a visita, quando o atual presidente deu as costas, tudo foi levado de volta.
A perseguição chegou a tal ponto que obrigou Amyr Klink, navegador conhecido internacionalmente, a vir a São Luís a fim de defender o Estaleiro e seu diretor, de quem era amigo havia muito tempo, usando seu prestígio internacional, em entrevistas à imprensa local, sites de internet e televisão. Ele o fez sempre que as notícias eram ruins sobre o futuro do projeto e de Phelipe.
Ainda sobre o falecido acadêmico, há um episódio típico de suas atribulações. Certa vez, em jantar na residência do acadêmico Ney Bello Filho, a ele pedi que apelasse ao governador Dino em favor de Phelipe, pois ele nunca teve emprego estável no Estado, ocupando, apenas, cargos em comissão. Eu sugeri que parassem as perseguições e melhorassem sua remuneração. Parece que o governador não se comoveu ou considerou o pedido como falta de bom senso. Daí, coisa alguma resultou, ou melhor, resultou em nada, que é melhor do que coisa ruim. E, no entanto, Phelipe tinha projeção nacional, como membro de conselho consultivo do IPHAN, de abrangência nacional, por seu talento e persistência, e outras qualidades mencionadas em bom momento e com justiça pelo acadêmico eleito José Jorge, no seu discurso de posse recente. Não ouvi o discurso, porque não compareci ao evento por motivo de saúde, mas dele tive notícias.
Eu, várias vezes, disse a alguns acadêmicos que não seria bom para a Academia a eleição de um governador em exercício a uma Cadeira da AML. Três acadêmicos foram também governadores. Nenhum eleito durante seu mandato no Executivo, com o foi Flávio: Godofredo Viana, Pedro Neiva de Santana e José Sarney. Deveríamos ter continuado com essa regra informal. A preferência da Casa, todavia, foi por trocar a prática tradicional pela ilusão ou vã esperança de dinheiro. Eu contra-argumentava que, se o problema da AML era financeiro, então deveríamos lançar Mateus, do Super Mercado Mateus, candidato ao quadro de membros permanentes. Ele está na lista da revista Forbes como um dos homens mais ricos do Brasil. As doações dele seriam de recursos da própria empresa ou dele mesmo, liberados sem licitações, sem burocracia e sem demora. Bastaria ele assinar um cheque. À Academia, a verdade é essa, deixou de ter um ambiente de fraternidade. Mas penso que o atual ministro se elegeria com boa votação, mas não por aclamação e unanimidade, após deixar seu cargo de então ou o de agora.
Não sei o posicionamento da direção da Casa neste episódio. Penso, no entanto, ser imprescindível uma palavra do presidente a respeito das turbulências atuais.
Lino Raposo Moreira