Uma idosa de 90 anos foi resgatada após trabalhar 16 anos sem carteira assinada, durante uma operação contra o trabalho escravo, coordenada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. A vítima, encontrada na residência de uma empregadora ainda mais idosa (101 anos), no Rio, é a pessoa de mais idade já resgatada em condições de escravidão no Brasil contemporâneo. As equipes encontraram também crianças e adolescentes em trabalho escravo, entre elas uma menina grávida.
A idosa, uma mulher negra que não teve o nome divulgado, trabalhava para a mesma família havia 50 anos, no Grajaú. Há 16, ela passou a ser a doméstica da casa e, ainda, a cuidadora de outra idosa, de 101 anos, que é mãe da antiga empregadora. A idosa dormia em um sofá para que pudesse estar mais perto da anciã. Para ela, era reservado um banheiro na parte externa da casa. E não voltava para a própria casa desde dezembro. Os empregadores foram indiciados pela PF.
A Operação Resgate III, realizada durante o mês de agosto, retirou 532 trabalhadores das condições de trabalho escravo contemporâneo em 15 dos 22 Estados brasileiros visitados, além do Distrito Federal. Foi a maior ação conjunta de combate ao trabalho escravo e tráfico de pessoas, segundo o MTE, reunindo também agentes do Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério Público Federal (MPF), Defensoria Pública da União (DPF), Polícia Federal (PF) e Polícia Rodoviária Federal (PRF). Em todo o ano passado, foram 2.575 resgates no País.
POR ESTADOS.
Nesta operação, o maior número de ocorrências foi registrado em Minas Gerais, com o resgate de 204 pessoas. A maior parte das vítimas trabalhava em lavouras de café e plantações de alho, batata e cebola. Goiás, com 126 resgates, São Paulo (54), Piauí (42) e Maranhão (42) completam a lista de unidades da Federação com mais trabalho análogo à escravidão.
Na área urbana, foram registrados casos em restaurantes, oficinas de costura, construção civil e trabalho doméstico. Além da idosa, outras seis mulheres e três homens faziam trabalho doméstico em condições precárias e irregulares.
Outros Estados que tiveram resgate de trabalhadores foram Acre, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia e Rio Grande do Sul e Tocantins. As equipes flagraram 26 crianças e adolescentes submetidos a trabalho infantil. Ao menos 74 pessoas foram vítimas de tráfico humano, levadas para trabalhar sob agenciamento, ficando posteriormente à mercê dos empregadores.
COMENDO TAMANDUÁ.
Em um dos casos que mais chamaram a atenção das equipes de resgate, 97 trabalhadores atuavam na colheita de alho em Rio Paranaíba, interior de Minas Gerais. Entre eles estavam seis adolescentes, incluindo uma menina grávida. No município de Batalha, no Piauí, os 13 trabalhadores encontrados em situação análoga à escravidão estavam preparando um tamanduá para comer, por falta de comida. M