O bispo emérito Dom José Luís Azcona Hermoso, 84 anos, morreu nessa quarta-feira (20/11), em decorrência das complicações de um câncer. O reverendo era um símbolo na luta contra o tráfico humano e pedofilia na Ilha de Marajó, no Pará. Ele estava internado em Belém desde o dia 28 de outubro, tratando da doença no pâncreas.
Em 1987, Dom José Luís foi nomeado bispo por São João Paulo II. Desde 12 de abril daquele ano, passou a viver em Soure, na Ilha de Marajó — onde passou a atuar contra o tráfico humano e a exploração sexual de crianças e adolescentes —, recebendo ameaças de morte na região. Em junho deste ano, recebeu o diagnóstico de câncer e, com a última internação, os médicos informaram da fragilidade do paciente, o que o impediu de realizar procedimentos cirúrgicos. Os profissionais também disseram não haver mais opções de tratamento curativo.
Na manhã desta quinta-feira (21/11), foi realizada uma missa na Paróquia São José Queluz, antes do corpo ser levado para Soure, a fim de ser sepultado. O Governo do Pará decretou luto oficial de três dias.
A Nunciatura Apostólica, representação diplomática do Vaticano, emitiu um pedido para que o bispo deixasse a região — sem informar o motivo e nem o local em que Dom José Luís deveria ir — em 2023. O pedido resultou na revolta dos moradores de diversas cidades de Marajó, ocorrendo protestos em Bagre, Breves e Soure. Em 26 de dezembro, a Nunciatura Apostólica enviou uma carta comunicando que o bispo não precisaria mais deixar a região.
Leia, na íntegra, a nota de pesar emitida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB):
“Estimado irmão em Cristo,
Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira,
bispo da Prelazia do Marajó (PA)
Com pesar, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil expressa seus sentimentos aos familiares, aos membros da Ordem dos Agostinianos Recoletos e ao povo de Deus na prelazia d0 Marajó (PA) pelo falecimento de seu bispo emérito, dom José Luís Azcona Hermoso.
Reconhecendo as chagas de Cristo na humanidade, o irmão no episcopado dedicou sua vida de forma incansável na luta contra o tráfico de pessoas. Também se tornou para nós um farol e uma referência na luta contra a exploração de crianças e adolescentes, a ponto de ter a própria vida ameaçada em decorrência de seu firme testemunho.
Agradecemos imensamente as contribuições de dom Azcona à nossa Conferência, como pregador do retiro para o episcopado brasileiro reunido na 56ª Assembleia Geral da CNBB, em 2018, e também por sua participação em reuniões promovidas por nossa Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora.
Dom Azcona deixa-nos um legado de amor, sabedoria e compaixão com os mais pequeninos, testemunho que continuará a inspirar a todos na Igreja no Brasil.
Que Deus conforte a todos que sentirão sua falta e que sua memória continue a iluminar nossos caminhos.“