Advogada e ativista do meio ambiente, a pernambucana Bruna Albuquerque, de 32 anos, esteve entre os voluntários que trabalharam no último domingo (20) para conter o derramamento de óleo na Praia de Muro Alto, no município de Ipojuca, um dos cartões postais de Pernambuco.
Acostumada a acompanhar mutirões para coletar lixo em mangues e praias nordestinas, Bruna conta que foi a primeira vez que lidou com o recolhimento desse tipo de substância e não vai voltar mais. “Fui com o EPI [equipamento de proteção individual] completo, mas caiu um pouco de petróleo meu braço, limpei na hora, eu estou com uma reação alérgica que cada dia coça mais. Depois senti a pior dor de cabeça de todos os tempos”,
Para Bruna, o grau de toxidade do óleo é óbvio, “é possível até sentir no ar” e as pessoas que estão tentando limpar as praias, muitas vezes até porque têm ali seu sustento, estão colocando a saúde em risco. “Está havendo uma romantização do trabalho voluntário. Chegou-se a criar o slogan, ‘chega aqui que a gente limpa’. Mas o que você percebe quando vai para um dia de limpeza desse é que aquilo é petróleo cru, é um material extremamente tóxico. As pessoas estão sendo submetidas a um risco que não poderia. É uma nova categoria de desastre ambiental, é o pânico ambiental.” Embora admire a mobilização popular, a ativista reforça que não é prudente expor uma quantidade de pessoas a um risco de contaminação imensurável e lembra que o poder público precisa assumir o comando dos trabalhos.
“No domingo estávamos na Ilha do Francês, no Porto de Suape, onde só se chega de barco. Havia muitos voluntários sem EPI, sem almoçar, as pessoas manipulando um material extremamente tóxico. Entramos no modo desespero. Ao convocar mais pessoas que poderiam nem ter contato com essa substância podemos aumentar os danos do ponto de vista da saúde pública.” Segundo Bruna, muito do material recolhido no mar neste dia acabou espalhado na areia porque os sacos plásticos não deram conta de acondicionar o óleo. “É uma gosma pesada.”.
Munida de informação Bruna não vai mais voltar para o front do recolhimento do óleo. Ela vai atuar acompanhado os desdobramentos jurídicos e ajudando a cobrar ações do poder público. A ativista conta que sempre foi defensora dos animais e do meio ambiente e quando resolveu que seria advogada, focou para o direito ambiental porque era a única área em que se identificava. A pernambucana trabalhava em empresas para “pagar os boletos”, e criou no ano passado a empresa Manifesto Ambiental com objetivo de atuar nas causas ambientais. Hoje presta consultorias e produz conteúdo na internet sobre sustentabilidade, alternativa ao uso de plástico e como viver gerando menos lixo.
“Não é prudente entrar em contato com essa substância. Depois de uma grande mancha de óleo, ficam micropartículas de petróleo que são impossíveis de serem removidas pelos voluntários.”
A ativista diz que apesar de as cenas das manchas de óleo serem dignas de tristeza, elas não a surpreende.
“Quando eu entro nos mangues vejo muito lixo, algo tão degradante quanto isso. Acho que nos próximos dez anos podemos esperar grandes desastres ambientes, as coisas vão entrar em colapso. Os sintomas vão começar a se agravar.” Para ela, o plano de recuperação do dano ambiental causado pelo derramamento do óleo vai durar pelo menos duas décadas.
Manchas surgiram no início de setembro
Segundo a Marinha do Brasil, as primeiras manchas de óleo apareceram o litoral nordestino apareceram no dia 2 de setembro. Segundo o órgão, desde então têm sido realizadas ações de monitoramento e redução de danos.
O Ministério do Meio Ambiente publicou texto no site oficial, no dia 16 de outubro, em que diz que mais de 1 mil homens, helicópteros, aviões e barcos estão sendo empregados nas operações de retirada de óleo das praias do Nordeste.
Ainda, de acordo com a Pasta, as ações do Plano Nacional de Contingência (PNC) e do Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA) “estão em pleno funcionamento. A operação mobiliza vários órgãos do governo federal, como Ibama, ICMBio, Polícia Federal, ANP, Petrobras, Exército Brasileiro, Força Aérea Brasileira, Universidades Federais e mais todos os recursos disponibilizados pelos estados e municípios, além do terceiro setor.”
Segundo o ministério, “o óleo não é brasileiro, tem origem venezuelana, mas não se conhece o modo como vazou para o litoral brasileiro.”.