Flamengo e River Plate decidirão a Libertadores de 2019 em 23 de novembro. Populares, milionários e poderosos, eles estão em todos os noticiários da América do Sul. Mas em Teresina, no Piauí, uma realidade paralela mostra que o futebol não é um conto de fadas para os homônimos dos finalistas. Lá, fugir da crise financeira é o maior título desejado por Esporte Clube Flamengo e River Atlético Clube.
Fundado em 1937, o Flamengo-PI foi totalmente inspirado no rubro-negro carioca: tem as mesmas cores, uniformes e apenas o nome do Estado acrescido ao escudo. Já o River-PI, de 1946, aderiu à faixa transversal na camisa semelhante ao clube argentino. Ao longo de décadas, o “Rivengo” se tornou a maior rivalidade local, mas os dias de glória rarearam.
—É o maior clássico, ainda que tenha perdido força com a crise do Flamengo. O clássico chegou a levar 100 mil pessoas em três jogos nos anos 1970. No último, porém, apenas 1.125 torcedores pagaram ingresso — diz Fábio Lima, editor do jornal local “Cidade Verde”.
Se os ingressos para a final da Libertadores custam US$ 80 (cerca de R$ 321), quem assistiu aos clássicos no Piauiense deste ano comprou bilhete por até R$ 10 (meia-entrada no setor mais popular). O valor chegou a R$ 50 (inteira, nas cadeiras mais caras) e segue o preço padrão para jogos no Piauí.
Os pseudo-argentinos levam vantagem no retrospecto entre os times (136 vitórias contra 115 dos rubro-negros). Se hoje o Flamengo carioca esbanja dinheiro e organização financeira, seu xará do Piauí amarga a maior crise da sua história. A antiga sede do clube foi vendida em uma transação mal explicada e virou um supermercado; a nova foi penhorada, com o valor da venda destinada a quitar débitos trabalhistas. O time atualmente não tem centro de treinamento e chegou a utilizar oito campos como “casa” para treinar.
—Em 2010, a venda para um grupo chamado “Arrocha o nó” aconteceu pelo valor de R$ 1,2 milhão e, dois anos depois, foi revendida por R$ 9 milhões a uma rede de supermercados. Atualmente, o Flamengo não tem sede e essa novela segue sem desfecho — conta Pâmella Maranhão, do sistema de comunicação O Dia, de Teresina.
A inconstância em campo é reflexo da má administração vivida pelo Flamengo-PI na década. O maior exemplo é o fato de o clube ter tido três presidentes nos últimos quatro anos: Tiago Vasconcelos (2015 a 2018), Everaldo Cunha (final de 2018 e início de 2019) e Rubens Gomes (restante de 2019).
A última participação em uma competição fora do Estado aconteceu em 2015 e a distância financeira aumentou em relação ao maior rival. O River também teve que vender a sua sede, antes em uma área nobre de Teresina, mas comprou um clube social em uma região mais afastada da capital e, agora, está construindo o seu terceiro campo de futebol no CT, que conta com piscina, ginásio e alojamento para atletas.
RECESSO NO 2º SEMESTRE
Atualmente, o Flamengo está sem elenco, já que o calendário da equipe se encerrou em maio, quando acabou a disputa do Piauiense. O rubro-negro não passou da fase de grupos, e perdeu um dos clássicos por 2 a 0 —o outro acabou empatado em 1 a 1. O River foi campeão estadual.
O Flamengo não divulga um valor oficial, mas estimase que o custo com investimentos no futebol e folha salaria lestá entre R $40 mile R$ 80 mil; o rubro-negro carioca gastou mais de R$ 160 milhões apenas em contratações para esta temporada.
—A única contratação por enquanto é do treinador Paulo Ricardo Moroni. A apresentação do elenco deve acontecer em dezembro —diz Pâmella.
O River encerrou seu ano no início de junho, quando foi eliminado, ainda na primeira fase, da Série D do Brasileiro. A diretoria renovou com 12 atletas do grupo —em 2020, disputará Copa do Nordeste, Copa do Brasil, Série De o Piauiense. Afolha salarial oscila entre R$ 150 mile R $200 mil.