Em 1947, Luiz Gonzaga lançou “Asa Branca”, obra-prima em parceria com Humberto Teixeira que rapidamente se converteu em um emblemático retrato da seca e da migração de brasileiros nascidos em diversas localidades do Nordeste para outras regiões do país.
Mais de sete décadas depois, não seria exagero imaginar que o Nordeste tem tudo para estimular o caminho inverso, aproveitando o imenso potencial para a geração de energias renováveis dos nove estados que compõem a região: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
A região tem protagonismo na expansão de renováveis, sendo responsável por pelo menos 80% de toda a energia solar e eólica produzida no Brasil, com capacidade instalada de cerca de 30 gigawatts (GW) desses tipos de energia, de acordo com dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Automaticamente, esse protagonismo é positivo para o aumento da participação das renováveis na Oferta Interna de Energia brasileira.
Com tanto potencial, é legítimo defender a tese de que o Nordeste seja um dos líderes de um novo processo de industrialização verde do País. E a contribuição da região precisa ir muito além da exportação de energia para outras regiões via SIN (Sistema Interligado Nacional) ou em projetos de hidrogênio verde.
Entendo que seria bastante salutar elaborar uma estratégia para incentivar a instalação de novos projetos industriais interessados nos atributos verdes locais, combinando energia renovável e competitividade, impulsionando a eletrificação das operações industriais.
E, além da industrialização, esse plano pode democratizar ainda o acesso de energia para quem vive e trabalha nas localidades, com redução de custos para empreendedores e consumidores.
São muitas as perspectivas. A maior, talvez, seja com a energia solar fotovoltaica —a que mais cresce no País. Os projetos de geração distribuída compartilhada, capazes de abastecer a demanda de energia de municípios inteiros, já vêm viabilizando contas de luz mais baratas, uma vez que a geração está próxima dos pontos de consumo, sem necessidade de uso de longas linhas de transmissão que atravessam o Brasil. E, além disso, o sistema interligado permite a vantagem, por exemplo, de a energia limpa produzida no Ceará acender uma lâmpada em São Paulo.
É possível imaginar agora como a capilarização dessas iniciativas poderá contribuir para encorajar “clusters” de projetos industriais de menor porte, e com elevado nível de geração de emprego, alavancados a partir de energia competitiva.
A própria geração eólica, que já ultrapassa mais de 8.000 torres instaladas na região, pode ganhar novo fôlego com o avanço do projeto de Lei das Eólicas Offshore no Congresso Nacional.
Além disso, há ainda uma nova fronteira para ser plenamente explorada —as usinas oriundas de aterros sanitários, capazes de produzir biogás para geração de energia e biometano, inclusive para uso automotivo, propiciando uma economia circular.
É a descarbonização fomentando a geração de renda e empregos em benefício da população local e contribuindo para reter talentos na própria região.
Da Folha