A Companhia das Letras anunciou, nesta quinta-feira (14), que publicará a obra do escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah, que venceu o Prêmio Nobel de Literatura na semana passada. O autor é inédito no Brasil. A partir de 2022, serão lançados quatro romances de Gurnah: “Afterlives”, “Paradise”, “By the Sea” e “Desertion”.
“Afterlives”, o livro mais recente do autor, está previsto para o primeiro semestre do ano que vem. Ambientado no início do século XX, o romance tem como pano de fundo a Rebelião Maji Maji, revolta armada contra o domínio colonial alemão na África Oriental. Os impactos individuais e coletivos da guerra são mostrados através do olhar de quatro persoangens diferentes, como um menino que foi roubado da família por soldados alemães.
Já “Paradise” acomapanha um garoto de 12 anos que foi vendido pelo pai para pagar uma dívida com um comerciante árabe. “Desertion” narra duas histórias de amor proibidas em épocas diferentes: uma em 1899 e outra nos anos 1950. “By the Sea” retrata a vida de dois imigrantes africanos no Reino Unido.
Segundo a nota divulgada pela editora, os romances e contos de Gurnah “invertem a perspectiva colonial e jogam luz sobre a pluralidade cultural da África”. “Gurnah construiu uma obra que investiga a experiência dos refugiados ante o deslocamento e a vida no exílio, por meio de temas como a memória, o pertencimento e o trauma.”
Nascido e criado na Ilha de Zanzibar, no Oceano Índico, Gurnah chegou ao Reino Unido no final da década de 1960, como refugiado. Embora tenha o suaíli como língua materna, escreve em inglês. É autor de dez romances. Quase todos refletem sobre perturbações do exílio. Entre suas principais referências literárias, estão a poesia persa, textos árabes (como “As mil e uma noites” e o “Corão”), Shakespeare e V.S. Naipaul.
Gurnah lecionou literatura na Universidade de Kent e se dedicou ao estudo de autores como Wole Soyinka (Nobel de Literatura), Ngũgĩ wa Thiong’o e Salman Rushdie. Sua obra tem inspirado pesquisas no campos dos estudos decoloniais, movimento que busca escancarar as consequências do eurocentrismo, resgatando identidades africanas apagadas — e, acima de tudo, ajudando a entender determinadas disputas políticas pelo imaginário social. A Academia Sueca concedeu o Nobel a Gurnah por sua “percepção intransigente e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino do refugiado no abismo entre culturas e continentes”.