O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta terça-feira, 27, sem saber que era gravado, que “o chinês” criou a covid-19 e ainda produziu vacinas menos eficazes do que as desenvolvidas por farmacêuticas dos Estados Unidos. A fala de Guedes, durante reunião do Conselho de Saúde Suplementar, ecoa uma teoria bolsonarista difundida nas redes sociais de que a China desenvolveu o vírus em laboratório com interesses econômicos.
Além de Guedes, estavam na reunião do conselho os ministros da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, da Saúde, Marcelo Queiroga, e da Justiça, Anderson Torres, além de representantes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Nenhum dos ministros presentes fez comentários ao ouvir as declarações de Guedes.
Parte da reunião foi transmitida em redes sociais do Ministério da Saúde. O vídeo foi interrompido após os ministros perceberem a gravação, e as imagens foram retiradas do ar. Segundo apurou o Estadão, Ramos afirmou durante a reunião preferir a vacina de Oxford/astrazeneca à Coronavac, desenvolvida pela chinesa Sinovac e entregue no Brasil pelo Instituto Butantan, órgão do governo de São Paulo. Ramos, de 64 anos, foi imunizado no dia 18, segundo ele, com a vacina de Oxford. Guedes, 71, já recebeu duas doses da Coronavac.
As falas dos ministros ocorreram no dia em que foi instalada, no Senado, a CPI da Covid, que vai investigar ações e omissões do governo federal durante a pandemia, o que inclui a aquisição de imunizantes.
Manifestações semelhantes levaram à queda de Ernesto Araújo do Ministério de Relações Exteriores. A permanência do então chanceler no cargo se tornou inviável por prejudicar as relações com os chineses, principalmente no momento em que o País precisa de vacinas e de matérias-primas dos asiáticos. Polêmicas com os chineses envolvendo Araújo foram apontadas como motivo para o atraso do envio de produtos ao País.
Ainda na reunião, Guedes disse que o Sistema Único de Saúde (SUS) é ineficiente e defendeu o uso da rede privada para atender pacientes de covid-19. O encontro do Conselho de Saúde Suplementar define justamente regras ao setor coberto por planos de saúde.
Mais tarde, Guedes fez uma retratação pública e disse que foi “infeliz” em sua declaração. “Hoje usei uma imagem infeliz”, afirmou o ministro, que argumentou estar falando sobre “como é importante que o setor privado colabore no combate à pandemia”. “É uma imagem que não tinha nenhum objetivo (de ofender).” O ministro ainda declarou ser “grato” à China por ter enviado a vacina ao Brasil e ressaltou que foi imunizado com a Coronavac.
Fornecedor. Na noite de ontem, sem mencionar Guedes, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, afirmou que seu país é o principal fornecedor do governo brasileiro. “Até o momento, a China é o principal fornecedor das vacinas e dos insumos ao Brasil, que respondem por 95% do total recebido pelo Brasil e são suficientes para cobrir 60% dos grupos prioritários na fase emergencial”, escreveu ele no Twitter.
A Casa Civil não comentou.
De O Estadão