A homenagem à cantora Alcione, pela Mangueira, é um dos destaques da segunda noite de desfiles do Grupo Especial. A escola será a quarta a entrar na Avenida. A Mocidade, que abre as apresentações, vem embalada por um enredo sobre o Caju e um samba que caiu no gosto do público no pré-carnaval, prometendo sacudir a Sapucaí. Desfilam na mesma noite a Portela, Vila Isabel, Paraíso do Tuiuti e Viradouro. As apresentações começam às 22h.
Leve e de fácil compreensão, a apresentação da Mocidade pretende despertar sensações, com cajus de verdade nas alegorias e o aroma da fruta borrifado na Sapucaí. Haverá ainda um toque sensual, com sereias que se lambuzam da fruta tropical, detalha Marcus. Regina Casé e Marcelo Adnet darão vida a Tarsila do Amaral e Jean-Baptiste Debret, respectivamente.
Em seguida entra a azul e branca de Oswaldo Cruz, levando para a Avenida o enredo “Um defeito de cor”, inspirado no romance de mesmo nome, da escritora Ana Maria Gonçalves. No desfile, os carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga sonham com uma carta do advogado abolicionista Luiz Gama à sua mãe, Luíza Mahim (Kheinde no livro de Ana), a partir das lições deixadas por ela. O ministro Silvio Almeida (Direitos Humanos) e o ator Lázaro Ramos darão vida a Gama, enquanto as Kheindes serão vividas pelas mães dos carnavalescos.
O enredo versa ainda por temas que seguem atuais, como o racismo, vivido pela histórica porta-bandeira Vilma Nascimento em novembro. Visando a emoção, o desfile trará ainda mulheres que perderam os filhos para a violência no Rio, como Marinete da Silva, mãe da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018; ou Jackeline Oliveira, mãe de Kathlen Romeu, grávida morta no Lins, em 2021.
A Vila Isabel, a terceira escola, vem com a reedição de “Gabalá, viagem ao templo da criação”, de 1993, num desfile que promete ser bem atual. A proposta é uma reflexão sobre o planeta, usando o samba, composto por Martinho da Vila, como fio condutor da narrativa. No enredo, o homem aparece como derrotado na missão passada por Oxalá, de cuidar e manter o planeta, fazendo com que seu criador adoecesse: a solução estaria nas crianças, levadas ao Templo da Criação, onde curariam a entidade dos males e salvariam a Humanidade.
Na verde e rosa, a quarta escola a entrar na Sapucaí, a expectativa fica por conta da homenagem à Alcione em seus 50 anos de carreira. Os carnavalescos Annik Salmon e Guilherme Estevão optaram por “não inventar” uma Marrom desconhecida pelo público. Se seus sucessos são símbolo do empoderamento ou de diversas emoções, o enredo foi desenvolvido a partir de “Cajueiro velho” e “Obrigado”, músicas que não são hits. Além da verdadeira homegeada, outras 20 Alciones (entre drags, atores e atrizes) pisarão na Avenida. Sua fé diversificada e a cultura popular de seu Maranhão também serão apresentados na Sapucaí.
Penúltima escola a entrar na Avenida, a Paraíso do Tuiuti se inspirou no líder da Revolta da Chibata, João Cândido (1880–1969), que fez parte do movimento de militares da Marinha que se insurgiram contra os castigos físicos sofridos dentro dos navios, que persistiam mesmo com o fim da escravidão. Filho de ex-escravizados, ele, que nasceu no Rio Grande do Sul, será louvado como um herói nacional: o desfile é encarado pelo carnavalesco Jack Vasconcelos como “um épico” para João Cândido.
Ao todo, quatro pessoas darão vida ao Almirante Negro no desfile, como Candinho, filho dele, que virá sobre o último carro, ao lado de parentes. Max Ângelo dos Santos (entregador agredido a chicotadas em São Conrado, em abril de 2023), que até hoje só desfilou como empurrador de alegoria da Acadêmicos da Rocinha, comunidade em que mora, virá de destaque; o jornalista Ernesto Xavier (neto da atriz Chica Xavier), e o ator Izak Dahora também interpretarão o homenageado. Já João Bosco e as filhas de Aldir Blanc (1946–2020), compositores do clássico “O mestre-sala dos mares”, gravado por Elis Regina, marcarão presença no fim do desfile.
Os desfiles do Grupo Especial serão encerrados pela Viradouro, cujo enredo é “Arroboboi”. A equipe da vermelho e branco foi à Bahia duas vezes, onde aconteceu o alafiou, quando todos os búzios se abriram, indicativo de que os caminhos estão abertos para a realização do enredo. Essa é a primeira vez que o carnaval tem autorização espiritual para tratar do candomblé Jeje, que é bem fechado, pontua o carnavalesco Tarcísio Zanon. Visualmente, será explorada uma paleta de cores múltipla, já que o símbolo de Dangbé é o arco-íris. Para explorar a luz cênica da Avenida, a aposta da escola é o uso de olhos de gato, material comum para a sinalização de trânsito, presente em fantasias e alegorias.
— Carnaval não é só beleza — pontua o carnavalesco destacando a sua função educacional, ao tratar de um enredo não tão conhecido.