O atacante brasileiro Vinicius Junior, do Real Madrid, foi expulso neste domingo (21) depois de confusão iniciada após insultos racistas proferidos contra ele por torcedores do Valencia. As equipes se enfrentavam no estádio Mestalla, pela 35ª rodada do Campeonato Espanhol —o time da capital foi derrotado por 1 a 0.
Imagens mostram o momento em que o jogador da seleção brasileira encara torcedores da equipe mandante próximos à linha de fundo. A situação provocou uma aglomeração entre atletas dos dois times e a partida foi interrompida por alguns instantes. Apenas o brasileiro foi expulso, com interferência do VAR (árbitro assistente de vídeo).
Em mensagem nas redes sociais após o jogo, o atacante afirmou que o racismo “é normal” em La Liga e sinalizou que pode deixar a Espanha em decorrência desses episódios. Em nota, a organização informou ter requisitado as imagens para investigar “supostos insultos racistas direcionados a Vinicius Jr.”
Neste domingo, os insultos começaram por volta dos 15 minutos do segundo tempo, quando o brasileiro sofreu uma falta e foi chamado de “mono” (macaco, em espanhol) por torcedores adversários. Os xingamentos continuaram, a ponto de o locutor do estádio intervir pedindo o fim dos gritos, para que a partida não fosse suspensa.
Já nos acréscimos, depois de Vinicius identificar um dos torcedores e denunciá-lo para a arbitragem com gestos, jogadores das duas equipes trocaram empurrões. O brasileiro recebeu um “mata-leão” do atacante Hugo Duro e, ao se desvencilhar, atingiu o jogador do Valencia no rosto —a ação foi punida com o cartão vermelho.
Após a partida, o técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti, saiu novamente em defesa de Vinicius e classificou o ocorrido como “inaceitável”.
“O ambiente estava muito tenso, muito ruim, perguntei se ele queria continuar em campo. O fato de pensar que tenho que tirá-lo por causa de racismo não me parece certo. Eu devo tirar um jogador se ele não está jogando bem, mas pensar em tirar um jogador por racismo, nunca aconteceu comigo.”
O treinador criticou a organização do campeonato devido à frequência dos insultos racistas recebidos pelo atacante brasileiro. “Já aconteceu outras vezes, mas não assim. É inaceitável. A liga tem um problema que não é o Vinicius. Vinicius é a vítima”.
“Insultam ele o jogo todo e depois mostram-lhe o cartão vermelho. Estou muito triste. É uma liga com grandes times, ambientes bonitos, mas temos que remover isso. Estamos em 2023, o racismo não pode existir”, finalizou Ancelotti.
Em fevereiro deste ano, a Liga criou uma comissão específica para tratar dos casos de racismo contra o atacante brasileiro. Até março, a organização já havia registrado oito denúncias.
A reação veio após críticas do jogador. No fim do ano passado, ele se manifestou publicamente para cobrar medidas depois de insultos recebidos no duelo com o Real Valladolid, em 30 de dezembro.
“Os racistas seguem indo aos estádios e assistindo ao maior clube do mundo de perto, e a La Liga segue sem fazer nada”, desabafou o atacante nas redes sociais.
O episódio de maior repercussão até então havia acontecido em setembro de 2022, antes de um clássico contra o Atlético de Madri.
“Se quer dançar samba, vá fazer isso no Brasil. Aqui [na Espanha] tem que respeitar seus companheiros de profissão e deixar de fazer macaquice”, disse o comentarista Pedro Bravo durante o programa de televisão “El Chiringuito”.
O caso reverberou internacionalmente e gerou apoio de figuras importantes como Neymar e Pelé. Na época, a hashtag #BailaVini (“Dança, Vini”, em espanhol) foi uma das mais compartilhadas na internet.