Um grupo de cerca de mil indígenas que protestava na Esplanada dos Ministérios, nesta quinta-feira, foi dispersado com o uso de bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, depois de avançar contra as grades de proteção que cercavam o gramado do Congresso Nacional. Os indígenas fazem parte do Acampamento Terra Livre (ATL), montado em Brasília desde segunda-feira. Entre os indígenas atingidos pelo gás lacrimogêneo, estava a deputada federal Célia Xakriabá (PSol-MG).
Em um vídeo publicado em suas redes sociais, Xakriabá aparece tossindo enquanto anda em direção a um bloqueio de policiais militares. “Eu sou deputada. Por que você jogou spray de pimenta em mim? Meu olho está morrendo de dor. Eu sou deputada!”, disse a parlamentar, apontando para o grupo de policiais.
“Esse episódio escancara o que temos denunciado há muito tempo: a violência do Estado contra os povos originários e o racismo institucional que marca as estruturas de poder deste país. Também é violência política de gênero, num país em que ser mulher indígena no Parlamento é resistir diariamente ao apagamento”, afirmou Xakriabá.
Segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal, duas mulheres foram atendidas com mal súbito. “Uma foi transportada para a UPA de São Sebastião e a outra, para o IHBDF. Estavam conscientes, orientadas e estáveis”, disse a corporação, em nota.
A Câmara e o Senado argumentaram que a ação foi necessária para evitar que os indígenas ultrapassassem áreas de segurança delimitadas com antecedência. “O acordo com o movimento indígena, que reúne lideranças de diferentes etnias do país, era que os cerca de 5 mil manifestantes chegassem apenas até a Avenida José Sarney, anterior à Avenida das Bandeiras, que fica próxima ao gramado do Congresso. Mas, parte dos indígenas resolveu avançar o limite”, disse a Câmara, em nota.
Já a Presidência do Senado afirmou que o avanço dos manifestantes foi “inesperado” e houve a necessidade de contê-lo “sem grandes intercorrências”. “A Presidência do Congresso Nacional reforça seu respeito aos povos originários e a toda e qualquer forma de manifestação pacífica. No entanto, é indispensável que seja respeitada a sede do Congresso Nacional e assegurada a segurança dos servidores, visitantes e parlamentares”, informou.
Em nota, a Polícia Militar do Distrito Federal destacou que, durante toda a semana, realizou o acompanhamento e policiamento das manifestações. O Correio tentou contato com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal para questionar se foram os policiais militares a disparar spray de pimenta contra a deputada Célia Xakriabá. Não houve retorno. A reportagem procurou, ainda, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), mas a associação não havia se manifestado até o fechamento desta matéria.
Do Correio Braziliense