RIO — Morreu nesta segunda aos 82 anos, o escritor, ensaísta e tradutor paulista Modesto Carone, um dos principais especialistas da obra de Franz Kafka no Brasil. A informação foi confirmada por sua editora, a Companhia das Letras. Ele estava internado em São Paulo e sofreu uma parada respiratória. O velório será nesta terça, no Salão Nobre da USP, a partir das 8h. Carone deixa dois filhos, André e Silvia.
— O Modesto era um daqueles tradutores ideais, tinha domínio das duas linguas, além de ser um ótimo escritor — observa Vanessa Ferrari, que editou “Lição de Kafka”, livro de ensaios publicado por Carone em 2009. — Devia ter dois ou três como ele no Brasil. Dedicou sua vida ao Kafka, e por isso conseguia fazer conexões que um tradutor comum seria incapaz. Seu repertório sobre Kafka era enorme.
Tradutor de Kafka
Carone começou a traduzir Franz Kafka (1883-1924) em 1983. Desde então, foi o responsável por verter do alemão para o português praticamente toda a obra do autor tcheco. Suas traduções renderam diversas edições de Kafka no Brasil, que saíram tanto pela finada Brasiliense quanto pela Companhia das Letras, como “Um artista da fome/A construção”, “A metamorfose”, “O veredicto/ Na colônia penal”, “Carta ao pai”, “O processo”, “Um médico rural”, “Contemplação/ O foguista” e “O castelo e Narrativas do espólio”.
“Carone vem desenvolvendo um esforço admirável no sentido de respeitar a sintaxe pessoal do autor tcheco, recriando em português suas frases longas, que revelam não só o movimento perplexo do seu pensamento como também o seu empenho lúcido em tornar aparentemente ‘natural’ o absurdo das situações descritas”, notou o crítico Leandro Konder no GLOBO, em 1997, na ocasião do lançamento da tradução de “Cartas ao pai”.
Autor premiado
Como ficcionista, Carone era elogiado por críticos como Flora Süssekind, que considerava a sua prosa “exemplar” e via nela o “emprego crítico das mudanças de escala e da autonomização de pequenos blocos narrativos”.
Em 1999, ele venceu o Jabuti na categoria romance pelo livro “Resumo de Ana”. Escreveu ainda “As marcas do real” (1979), “Aos pés de Matilda” (1980), “Dias melhores” (1984) e “Lição de Kafka” (2009), pelo qual recebeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte “APCA” de melhor livro de ensaio/crítica.