Padroeiro do Paraíso do Tuiuti e da cidade do Rio de Janeiro, São Sebastião será saudado com criatividade e grandiosidade pela agremiação que o escolheu como santo de devoção. A azul e amarela de São Cristóvão prepara um desfile caprichado no que diz respeito à parte plástica, com apuro estético do carnavalesco João Vitor Araújo. Ele é uma das apostas da escola para saudar, na verdade, os dois ‘Sebastiões’ que o enredo ‘O Santo e o Rei: Encantarias de Sebastião’ propõe.
Por dentro do barracão, alegorias grandiosas que, mesmo em fase de produção, impressionam pelo cuidado e acabamento em cada detalhe. Em meio à crise, aflorou a criatividade de quem ‘se formou’ na Série A. João Vitor aposta em soluções simples para gerar efeitos complexos. Aos componentes, um presente: fantasias de extremo bom gosto e beleza.
NO TALENTO DE JOÃO VITOR
Único carnavalesco negro do Grupo Especial, João Vitor passa os dias Após quatro trabalhos na Série A, incluindo um campeonato (Viradouro 2014) e um vice (Unidos de Padre Miguel 2018), João Vitor adquiriu experiência em transformar o pequeno em grande. Acostumado com crise e falta de dinheiro, o carnavalesco não nega ter reaproveitado materiais e estruturas do último desfile do Tuiuti, onde a escola terminou na oitava colocação.em meio às alegorias do barracão do Tuiuti. Apaixonado pelo trabalho, ele “prefere pegar o calor do primeiro andar a ficar na sua sala com ar condicionado”. O artista é daqueles que põe a mão na massa e sabe que a expectativa é grande em torno de sua ‘estreia’ na agremiação.
“Na verdade, eu não sou nenhum estranho no Tuiuti e o Tuiuti não é nenhum estranho pra mim. Poucas pessoas sabem, mas quando eu fui carnavalesco da Viradouro, em 2014, na Série A, eu dividia o barracão com o Tuiuti. E dividia mesmo, não tinha nada que separava as escolas. Foi aí que descobri que o Tuiuti é uma agremiação de família. O Thor, antes de ser presidente, é meu amigo. A novidade é que agora eu estou assinando o Carnaval, mas intimidade com a escola eu tenho de sobra”, revelou o carnavalesco.
Após quatro trabalhos na Série A, incluindo um campeonato (Viradouro 2014) e um vice (Unidos de Padre Miguel 2018), João Vitor adquiriu experiência em transformar o pequeno em grande. Acostumado com crise e falta de dinheiro, o carnavalesco não nega ter reaproveitado materiais e estruturas do último desfile do Tuiuti, onde a escola terminou na oitava colocação.
“A gente tem que transformar. Por exemplo, eu tô trabalhando um efeito que geralmente custa uma fortuna pra ser feito e através de um recurso consegui fazer por R$ 260. São experiências que o acesso agrega pra gente. Se colocar o meu efeito ao lado de outro que foi muito mais caro, não dará pra perceber diferença alguma, a não ser pelo valor gasto.”
FIQUE DE OLHO
SEGUNDA ALEGORIA E FANTASIAS
A grandiosidade que já é característica do Paraíso permanece mesmo com a mudança do carnavalesco. A escola continuará trazendo abre-alas acoplado. Serão dois carros e quatro quadripés, além de um pede-passagem após a comissão de frente. Símbolo da escola, a coroa estará na primeira alegoria, que tem o dourado como cor predominante.
Um dos trunfos da azul e amarela é o segundo carro, a Batalha de Alcácer-Quibir. A alegoria foi toda trabalhada em serragem colada para dar efeito de areia. Ela traz uma grande escultura de Dom Sebastião e promete efeitos de iluminação.
“Estou misturando o luxo com a criatividade, porque a gente reaproveita algumas coisas. É comum, não é vergonha. Não tem ninguém rico ou milionário aí fora. Nós não tivemos dinheiro pra fazer Carnaval. Esse ano, se não fosse a TV Globo, estariam todos os barracões parados”, disse.
No segundo carro, que representa a Batalha de Alcácer-Quibir, liderada pelo Rei Dom Sebastião, o carnavalesco utilizou um truque que barateou o custo de uma iluminação especial.“Quando você tem a possibilidade de trabalhar um enredo autoral, que é uma coisa tão íntima, te possibilita ir até a estratosfera. Eu pude trabalhar com cada coisa mínima do projeto, não houve uma imposição. Isso se reflete no barracão e posteriormente na Avenida. O público consegue reparar quando existe tesão em um trabalho e quando não tem. Aqui, vocês vão ver vontade”, justificou João Vítor.
O quarto carro é outro que deve impactar pela mudança de cores em relação ao resto do desfile. Em roxo, preto e azul, a alegoria traz o touro negro coroado, cercado de crânios de caveira. Tudo para dar o aspecto sombrio da lenda maranhense.
No que diz respeito às fantasias, um trabalho primoroso de João Vitor Araújo e sua equipe de ateliê. Cores em profusão, bom acabamento, leitura e soluções criativas dão o tom do conjunto de figurinos da escola para 2020. O carnavalesco conseguiu luxo sem gastar altas cifras e proporcionou grandiosidade mantendo leveza aos componentes.
Ao todo, são cinco alegorias, três tripés, quatro quadripés e 29 alas. A expectativa do Tuiuti é encerrar a produção de fantasias até o fim de janeiro e concluir todo o barracão em 10 de fevereiro, treze dias antes do desfile oficial.
O DESFILE
Primeiro setor: “Nossa abertura começa com o nascimento e a infância de Dom Sebastião, que era o ‘rei desejado’. Abordamos todo o início da vida dele e sua coroação, já que foi coroado tão cedo”.
Segundo setor: “Representamos a Batalha de Alcácer-Quibir, que eu amo de paixão, porque é aquele mistério que ninguém sabe se ele (Dom Sebastião) morreu ou desapareceu”.
Terceiro setor: “Começamos a abordar o Maranhão. O terceiro carro é o castelo aquático do Rei de Portugal, pois diziam que ele fazia morada no fundo do mar. Existe até um poema do Ferreira Gullar, ‘O Rei que mora no mar’, que inspirou muito esse setor”.
Quarto setor: “É a lenda do touro negro coroado. No Brasil, teve a história que ele (Dom Sebastião) se encantou e se transformou em um touro. É a parte que eu mais gosto, porque Carnaval é isso: devemos misturar o histórico com o lúdico. Todo mundo já ouviu um pouco essa história de que em noite de lua cheia um touro negro coroado corre sobre as areias da Praia dos Lençóis no Maranhão”.
Quinto setor: “São os movimentos populares no Nordeste, que sempre exaltavam Dom Sebastião como um salvador, uma espécie de semideus que libertaria a população do agreste de todas as mazelas: da seca, da fome, da peste”.
Sexto setor: “Fechamos com o setor de Sebastião do Rio de Janeiro, quando promovemos o encontro do santo com o rei”.
FICHA TÉCNICA
Enredo: O Santo e o Rei: Encantarias de Sebastião
Carnavalesco: João Vitor Araújo
Posição: 4ª a desfilar no Domingo de Grupo Especial, 23 de fevereiro
Alegorias: 5
Tripés: 3
Quadripés: 4
Alas: 29
Componentes: 3500