O Brasil apresentou pela primeira vez áreas com clima árido, semelhante aos desertos. O dado foi revelado em mapas produzidos com informações de 1990 a 2020. Entre as principais causas, estão as mudanças climáticas, em especial o aumento da temperatura da terra, associado à degradação do solo feita pelo ser humano em desmatamentos e queimadas.
O estudo foi realizado pelo órgãos federais: Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo nota técnica, os indicadores de zonas áreas caíram de forma inédita, o que aumenta as zonas desérticas.
Pesquisador do Inpe e coordenador do estudo, Javier Tomasella, afirmou que a Bahia é a área mais atingida pela desertificação.
“Nosso levantamento utilizou dados até 2020, e no novo mapa aparecem essas áreas áridas, mais precisamente na região norte da Bahia. A gente nunca tinha visto isso antes, essa é a primeira vez”, explicou para Carlos Madeiro, colunista do site UOL.
Um plano de ação deve ser realizado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), assim como outros órgãos ambientais e do governo federal.
Em outra pesquisa, desenvolvida pelo Laboratório de Processamentos de Imagens de Satélite (Lapis) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), é destacado o mesmo problema e a criação de uma nova tipologia no cenário climático brasileiro.
“Temos agora dentro do conceito de terras secas da UNCCD (Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação) as três tipologias: subúmidas secas, semiárido e a novidade, o árido. Isso cria uma nova ordem do semiárido brasileiro”, explicou o pesquisador Humberto Barbosa.
Clima do Nordeste
O clima semiárido está presente em todos os nove estados do Nordeste, em 1.262 municípios. A região norte de Minas Gerais e o Espírito Santo também apresentam o clima. No entanto, o estudo revela que o processo de aridez avança em todo o País, menos no Sul.
Uma das características principais do semiárido é a irregularidade das chuvas e, pelas fortes temperaturas, uma evaporação mais rápida da água. Dessa forma, o clima permanece seco e contribui para a escassez de recursos hídricos.
Com o aumento das temperaturas do mundo, a taxa de evaporação cresce e os solos ficam mais secos e consequentemente mais degradados. Além disso, com queimadas, desmatamento e ações do ser humano, torna-se mais suscetível a criação de zonas desérticas.
Isso pode impactar em 11.036 espécies de vegetação, na produção do milho, feijão, mandioca, assim como na criação pecuária de galinhas, bovinos e suínos, entre outros.
Segundo dados do governo federal, o Ceará está entre os principais produtores desses alimentos, assim como a cana-de-açúcar.
Plano de ação do Ministério do Meio Ambiente
No ministério comandado por Marina Silva foi criado o Departamento de Combate à Desertificação. Alexandre Pires é o coordenador do setor e afirmou que serão utilizado os dados informados para a atualização de mapas das áreas propícias a se tornarem zonas de deserto.
“O MMA está se articulando com os governos dos estados no sentido de retomada da política, de repactuação de ações que atendam à necessidade de implementação de práticas e tecnologias concretas de combate à desertificação”, disse.
Tribunais de Contas cobram governos
Os Tribunais de Contas (TCE) da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Sergipe, estão juntos em uma rede para cobrar ações de redução da desertificação. O projeto é organizado pelo TCE da PB.
“Ou se cuida disso imediatamente, ou a desertificação obrigará a remoção das populações do semiárido”, alertou Nominando Diniz, presidente do TCE-PB.