Autor das biografias de Carmem Miranda, Nelson Rodrigues e Garrincha, e de obras que retratam a época da bossa nova, como ‘Chega de Saudade’ e ‘Ela é Carioca’, Ruy Castro pode ter errado a data de nascimento do cantor e compositor Carlos Lyra. Segundo reportagens que registram a morte de Lyra, o carioca morreu aos 90 anos neste sábado, 16 de janeiro.
Na fascículo 5 da Coleção Folha 50 anos de Bossa Nova, Ruy Castro inorma que Carlos Eduardo Lyra Barbosa nasceu no Rio de Janeiro na noite de 11 de maior de 1936, quanda as constelações de estrelas ao norte e ao sul estavam alinhadas. A própria Folha, registra que Lyra morre na madrugada de hoje aos 90 anos.
Em 1971, mais de 50 anos atrás, Carlinhos Lyra proclamava sua morte. “A bossa-nova morreu. O Carlinhos Lyra de “Minha Namorada” está morte. Minha namorada é uma das composições eternizadas no repertorio da música popular brasileira, assim como algumas outras de Lyra, como Lobo Bobo, parceria com Ronaldo Bôscoli.
Lyra tinha como maior parceiro o poetinha Vinícius de Moraes, e, ao lado desses deixou pérolas para a música popular do país composições como Maria Moita, na qual cantam que “A mulher tem que olhar pelo homeo. E é detitada, em pé, mulher tem é que trabalhar”. Por outro lado, com o mesmo poetinha cmpôs “Coisa mais linda” com versos sublimes como “Você é mais bonita que a flor”.
CONFIRA REPORTAGEM DE O GLOBO:
Morreu na madrugada deste sábado (16), aos 90 anos, o cantor e compositor Carlos Lyra, ícone da bossa nova. Autor de composições como “Maria Ninguém” e “Lobo Bobo”, que viraram clássicos em gravação de João Gilberto, ele foi um dos principais nomes do movimento musical. A morte foi confirmada por sua esposa, Magda.
Lyra estava internado desde quinta-feira (14) no Hospital da Unimed, na Barra da Tijuca, com quadro de febre. Na sexta-feira, uma infecção piorou o seu estado de saúde. A causa da morte não foi confirmada. O velório será amanhã das 10h às 14 no Memorial do Carmo, para familiares e amigos. O compositor será cremado.
Tom Jobim disse certa vez que Carlos Lyra era o “maior melodista do Brasil”. A história é contada por pelo compositor Roberto Menescal, colega de escola de Lyra. Mais tarde, Jobim aprofundaria o elogio em um texto dedicado ao amigo: “Lyrista e lyricista, romântico de derramada ternura, nunca piegas, lacrimoso, açucarado. Formidável compositor”, registrou Jobim.
— Carlos foi o mais reconhecido e gravado da nossa turma. Ele se dedicou, principalmente, a compor — diz Menescal, chamando de “turma” os que orbitavam em torno de Tom Jobim e João Gilberto na bossa nova, cada um desenvolvendo seu estilo.
Nascido no Rio, em 1933, Lyra começou a fazer música com um piano de brinquedo aos sete anos de idade. Adolescente, conheceu Roberto Menescal, outra futura lenda da bossa nova, com quem montou a Academia de Violão, uma espécie de academia musical. Por lá passaram nomes como Marcos Valle, Edu Lobo, Nara Leão e Wanda Sá, entre outros.
A sede do grupo era um quarto-e-sala na rua Sá Ferreira, em Copacabana. Foi cedida por um amigo de Lyra, que usava o imóvel como garçonnière. A academia foi encerrada após a mãe de uma aluna encontrar um preservativo usado no sofá.
O compositor passou a frequentar as reuniões no apartamento da aluna de sua academia de violão Nara Leão, onde nasceram as primeiras canções da bossa nova.
O reconhecimento do público veio com “Menino”, composição gravada em disco em 1956 na voz de Sylvia Telles. Outras composições marcantes são “Coisa mais linda”, “Minha namorada”, “Primavera”, “Sabe você”, “Você e eu”, todas consideradas clássicos da bossa nova.
Em 1957, Lyra participou do primeiro show com o pessoal da Bossa Nova, no Grupo Universitário Hebraica. Em 1959, João Gilberto inclui canções dele no LP “Chega de saudade”: “Maria Ninguém”, “Lobo bobo” e “Saudades dez um samba” (essas duas últimas foram compostas em parceira com Ronaldo Bôscoli). Priorizando seu dom para a composição, como bem lembrou Menescal, Lyra assinou seis música nos três históricos primeiros discos de João Gilberto (de 1959, 60 e 61).
Lyra também participou de festivais universitários e, em 1961, participou da fundação do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), que teve enorme influência no início dos anos 1960, antes do golpe militar de 1964. Lá, apresentou compositores popular jovens da Zona Sul carioca, como Nara Leão.
‘Parcerinho cem por cento’
Aos 25 anos de idade, Carlos Lyra pegou o telefone e ligou para o poeta Vinicius de Moraes propondo parcerias. Ficaram amigos e fizeram mais de 20 canções juntos, incluindo a trilha sonora do espetáculo “Pobre menina rica” (1962).
Vinicius de Moraes se referia ao trio Carlos Lyra, Baden Powell e Tom Jobim como “Santíssima Trindade”. Na letra de “Samba da benção”, Vinicius imortalizou Lyra com os versos “A bênção, Carlinhos Lyra, parceirinho cem por cento, você que une ação ao pensamento e ao sentimento”.
— Somos todos galhos que nascemos do tronco do Tom (Jobim) — afirma a cantora Joyce. — Mas Carlos é muito forte, fundamental, porque estava próximo dele, é um irmão mais novo do Tom. Não foi ofuscado. Suas melodias são sinuosas, cheias de detalhes.
Aniversário e homenagens
Lyra fez 90 anos em maio. O aniversário ficou marcado pelo lançamento de “Afeto”, álbum com 14 músicas do compositor interpretadas por amigos e admiradores, e com arranjos de Marcos Valle, João Donato, Jaques Morelenbaum, Gilson Peranzzetta e Antonio Adolfo.
Na quinta-feira em que Lyra foi hospitalizado, Gilberto Gil homenageou o compositor em um show na Academia Brasileira de Letras.