Com sugestões de última hora, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), amarra as pontas finais do seu relatório final dos trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o 8 de Janeiro. Em mais de mil páginas, o texto vai trazer pedidos de indiciamento e apresentação de projetos de lei sobre a defesa do estado democrático de direito.
Eliziane recebeu na segunda-feira, 16, propostas de grupos da sociedade civil ao seu parecer final, com um pedido para que todos os envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro fossem processados e julgados, com atenção especial aos militares.
“O olhar voltado para os militares não há dúvida nenhuma que estará consignado no nosso relatório final”, disse Eliziane.
Um dos grandes mistérios sobre o relatório é se ele irá pedir ou não o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Todos os indiciamentos que forem apresentados são indiciamentos com sustentação muito forte e muito precisa. Quanto ao ex-presidente, a gente apresentará o Brasil ou não”, disse a senadora.
Aliados do governo, afirmam que Bolsonaro estará entre os alvos no relatório de Eliziane, entre outros nomes do ex-governo, como general Augusto Heleno e o ex-chefe da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques.
Eliziane fecha seus trabalhos com algumas lacunas, sem alcançar objetivos propostos por ela mesma ao longo das sessões, como o acesso aos relatórios de inteligência financeira das movimentações de Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle.
“O relatório é fruto de todo um trabalho feito em uma comissão. Passa pelas oitivas, pelos documentos que nós recebemos através de quebra de sigilos e eles são fundamentais para os indiciamentos. Agora, para além dos indiciamentos, um relatório, precisa apresentar sugestões para a sociedade brasileira, fazer encaminhamentos, fazer, por exemplo, ajustes, se for necessário, no arcabouço legal para o tema— disse a senadora.
Ao todo, foram 17 depoimentos realizados e 648 documentos analisados pela comissão. Integrantes da CPI também culpam o Supremo Tribunal Federal (STF) por parte do insucesso da comissão, após decisões de ministros indicados por Bolsonaro limitarem a atuação do colegiado. Nunes Marques, por exemplo, impediu que a quebra de sigilo de Silvinei Vasques pudesse ser usada, além de barrar o depoimento de Marília Alencar, que foi auxiliar de Torres no Ministério da Justiça e na Secretaria de Segurança Pública do DF.
O ministro André Mendonça, por sua vez, inviabilizou outro depoimento, o de Osmar Crivelatti, que era um dos ajudantes de ordens de Bolsonaro e continua o auxiliando.
Interlocutores da parlamentar dizem que o relatório final será um “documento histórico” que mostrará que o 8 de janeiro não foi um ato isolado, mas um movimento articulado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e a extrema direito logo após as eleições de 2022.
“Nele, os brasileiros de hoje e das próximas gerações poderão saber como a extrema direita articulou, financiou e estimulou uma tentativa de golpe de Estado que culminou com os atentados do 8 de Janeiro”, publicou a direção do PT na Câmara nesta segunda-feira.
A ideia do texto é relacionar as minutas golpistas encontradas no celular de Mauro Cid e na casa de Anderson Torres com a reunião do hacker Walter Delgatti com Bolsonaro no Palácio da Alvorada. À CPMI, o hacker relatou que Bolsonaro lhe pediu para assumir um suposto grampo contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, que é presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
Os bloqueios nas rodovias feitos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) concentrados no Nordeste no segundo turno das eleições e a tentativa de explosão de um caminhão-tanque nas proximidades do aeroporto de Brasília na véspera de Natal também serão listados como parte da trama golpista.
Com informações de O Globo