O Grupo Maria Cutia de Teatro, de Minas Gerais, traz pela primeira vez a São Luís (MA) o espetáculo “Auto da Compadecida” – versão mineira da obra do paraibano Ariano Suassuna, com concepção e direção de Gabriel Villela – e mais dois trabalhos do repertório da trupe, a “Ópera de Sabão” e o show cênico “Aquarela”.
A “Ópera de Sabão” é uma montagem dirigida por Eduardo Moreira (Grupo Galpão) e apresenta um melodrama radiofônico sobre a decadente Rádio Drama que está a ponto de fechar suas portas. O show cênico “Aquarela” apresenta canções autorais que passeiam pelos coloridos da infância
As apresentações acontecem nos dias 10, 11 e 12 de agosto na Praça Nauro Machado, às 19 horas, no centro, e integram a programação do Festival Amazônia Encena. A apresentação do “Auto da Compadecida”, será no dia 12, no centro, e no Largo do Teatro Itapicuraíba, no bairro Anjo da Guarda, no domingo, 13 de agosto às 18h30. Toda programação tem acesso gratuito. Todos os espetáculos são acessíveis em Libras, com classificação indicativa livre.
O grupo oferece ainda uma oficina de teatro, no dia 12 , sábado, às 10h, voltada para estudantes de arte, educadores e interessados em geral, intitulada “Auto no Ato”, que propõe vivência cênico-musical com técnicas de canto e expressão vocal utilizadas durante a criação da montagem “Auto da Compadecida”. O curso abriu 25 vagas ,com duração de 3 horas. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas por meio de preenchimento de formulário on-line disponível na bio do instagram @grupomariacutiadeteatro.
Trajetória da companhia
Com trajetória de quase 20 anos, a premiada companhia de Belo Horizonte (BH) – percorreu seis países e todas as regiões do Brasil. “A gente sempre teve um sonho de conhecer o Brasil todo. Um sonho impossível, né? E a gente une isso a uma vontade de descentralizar e sair do eixo Rio-São Paulo. Então, São Luís é um Brasil que a gente não conhece e não sabe como é, que apresenta certamente diferenças em relação a Minas, de onde a gente vem, é para nós, algo muito especial. Sobretudo com o “Auto da Compadecida”, espetáculo que marca uma nova era para o Maria Cutia, com estrutura maior e mais complexa”, reflete Mariana Arruda, atriz e fundadora do Grupo Maia Cutia.
Auto da Compadecida
“Fazia muito tempo que a gente não realizava uma turnê grande com o Auto da Compadecida”, conta o ator e fundador da trupe, Leonardo Rocha. O espetáculo estreou em 2018, porém, com a pandemia foi preciso cancelar a participação em diversos festivais no Brasil. “É um espetáculo muito bonito visualmente, muito popular, não só pelo texto, mas pela encenação, e a gente é um grupo que gosta de viajar e conhecer pessoas”, diz.
“Muitas vezes, as pessoas ficam sabendo da peça porque passam pela Praça. E esse encontro não programado é muito saboroso, porque a gente conhece gente que talvez não fosse assistir ao Maria Cutia, se não fosse o acaso, que só o teatro de rua pode proporcionar e que dá ainda mais sentido”, comenta Mariana Arruda.
Inspirado na abordagem mítica brasileira do famoso anti-herói ou herói sem caráter, em “Auto da Compadecida”, o Maria Cutia narra as aventuras picarescas de João Grilo e Chicó que começam com o enterro e o testamento do cachorro do Padeiro e de sua Mulher e acabam em uma epopeia milagrosa no sertão envolvendo o clero, o cangaço, Jesus, Maria e o Diabo.
“Desde o início, a ideia era fazer um espetáculo para a rua”, explica Leonardo. Quando a peça começou a circular, o ator relata que a maioria dos festivais era praticamente no formato palco. “Tem uma coisa na poética do grupo que é ser essencialmente de rua. A gente nunca faz um espetáculo pensando que vai ser só palco. E como durante esta turnê só vamos apresentar em espaços ao ar livre, a expectativa está grande por aqui”, adianta.
Na versão mineira e tropicalista, os atores cantam, ao vivo, canções de Roberto Carlos, Caetano Veloso, entre outros grandes nomes da música brasileira. Nos cenários e figurinos, criados por Gabriel Villela, referências fortes do barroco mineiro. A releitura aborda ainda, com pitadas de humor e ironia, temas já explorados na obra do gênio paraibano, como o racismo, a ganância, a exploração da fé alheia, conferindo ao texto de Suassuna, um ar brechtiano. O olhar político (sem didatismo ou partidarismo), desprendido do enredo original, aproxima o autor dos acontecimentos da política brasileira atual.
Já a oficina gratuita “Auto no Ato”, que será oferecida em cada umas das localidades percorridas, “propomos jogos de improviso com o objetivo compartilhar nossa experiência e vivência cênica enquanto coletivo, usando várias linguagens como a música, o teatro e a palhaçaria”, adianta a ´produtora da trupe Luisa Monteiro. A oficina é voltada para artistas, estudantes de arte, educadores e interessados em geral. Inscrições gratuitas no link na bio @grupomariacutiadeteatro.