O secretário dos Direitos Humanos e Participação Popular em exercício no Maranhão, Jonata Galvão, afirmou ontem que o governo federal deveria adotar medidas efetivas para proteger os territórios indígenas do Estado, e não agir apenas após os ataques acontecerem. “São só respostas reativas às barbaridades que têm acontecido. Queremos saber se o governo federal vai ficar reativo aos atentados ou se vai estruturar uma medida concreta e agir para combater esses crimes”, disse ele, após o segundo ataque com mortes de indígenas em menos de 40 dias no Maranhão.
No sábado, dois índios da etnia guajajara – Raimundo Guajajara e Firmino Guajajara – morreram após uma emboscada no município de Jenipapo dos Vieiras, no Maranhão, a 500 quilômetros ao sul da capital São Luís. Outros dois ficaram feridos. Em 1º de novembro, Paulo Paulino Guajajara foi morto em um ataque na Terra Indígena Arariboia (MA), quando realizava uma ronda contra invasões. O Planalto informou que não comentaria as críticas de Galvão.
“Não temos medidas efetivas do ponto de vista da proteção no âmbito federal dentro das terras indígenas no Estado do Maranhão. Os territórios indígenas no Brasil e no Maranhão estão pedindo socorro”, afirmou Galvão ao Estado.
O secretário informou que o governo maranhense enviou ofícios para pedir ajuda na proteção aos indígenas ameaçados ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, mas não obteve resposta. “Quando fazemos um pedido desse, estamos afirmando categoricamente que existem áreas com extrema vulnerabilidade, com risco de morte e seria importante que o governo federal pudesse dar uma resposta”.
Segundo ele, o Estado criou uma força-tarefa para garantir a segurança dos índios, mas precisa de autorização da União por se tratar de uma área indígena.
Anteontem, Moro afirmou que avaliria a viabilidade do envio de uma equipe da Força Nacional à região. Ontem, a Polícia Federal fez reuniões com funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai), da Polícia
Rodoviária Federal, da Polícia Militar e Governo do Estado do Maranhão “a fim de elaborar estratégias de busca e policiamento ostensivo na região”. Ainda segundo a Funai, uma base de apoio que já estava prevista foi montada pela polícia Rodoviária Federal na estrada onde ocorreu o crime. Ainda não foram divulgadas informações sobre a autoria e a motivação do ataque aos indígenas.
Internacional. A jovem ativista sueca Greta Thunberg, ativista contra os efeitos das mudanças climáticas, criticou o ataque e disse que os povos indígenas do Brasil estão sendo atacados por proteger as reservas naturais. “Os povos indígenas estão sendo literalmente assassinados por tentar proteger as florestas do desmatamento. Repetidamente. É vergonhoso que o mundo permaneça calado sobre isso”.
A ex-ministra do Meio Ambiente e candidata derrotada às eleições presidenciais do ano passado, Marina Silva (Rede) afirmou em uma rede social que o “banho de sangue” exige uma resposta firme e urgente das autoridades brasileiras. “O assassinato de dois indígenas Guajajara não pode ficar impune. É preciso conter a barbárie e chegar aos responsáveis por esses atos criminosos. Minha solidariedade ao povo Guajajara”, escreveu em seu Twitter.
Ativista sueca
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à Igreja Católica, emitiu ontem uma nota pública com duras críticas ao governo de Jair Bolsonaro, à Funai e ao Ministério da Justiça. “O presidente Jair Bolsonaro tem dito e repetido, em vários espaços de repercussão nacional e internacional, que nenhum milímetro de terra indígena será demarcado em seu governo, que os povos indígenas teriam muita terra e que atrapalham o ‘progresso’ no Brasil”, diz trecho da nota.
O Cimi cita um terceiro caso de morte de indígena. Humberto Peixoto, do povo Tuyuca, do Amazonas, foi vítima de espancamento a pauladas na última segunda-feira, em Manaus, e morreu no sábado.
De O Estadão